Memória LEOUVE

O pacotaço que atropela

O pacotaço que atropela

No auge da madrugada desta quarta-feira, dia 21 do derradeiro mês de um ano que teima em não terminar, os deputados gaúchos aprovaram a extinção de oito fundações estaduais como parte do pacotaço do Sartori pra tirar o governo gaúcho do atoleiro da crise.

 

Agora, o governo fica autorizado a demitir centenas de servidores que trabalham nestas fundações, em um número que pode chegar a 1,2 mil, uma espécie de papai noel às avessas pra mais de um milhar de famílias que convivem há pelo menos um ano com salários atrasados e que até agora não viram a cor do 13º.

 

Não é nada. Na lógica simplista sartoriana, melhor receber atrasado do que não ter o que receber, né não? Esses milepoco que o digam.

 

Entre as extintas, estão a Fundação de Economia e Estatística (FEE), a Fundação de Ciência e Tecnologia (Cientec) e a Fundação Zoobotânica (FZB), três entidades fundamentalmente ligadas à pesquisa.

 

Só nesta madrugada, foram seis instituições na mesma canetada, seis realidades completamente distantes entre si, e que mereciam análises diferentes e debates profícuos, mas foram patroladas com o único argumento de que o dinheiro que elas vão render vai ser usado na saúde e na segurança.

 

E ainda estão com os dias contados a Fundação de Pesquisa Agropecuária (Fepagro) e a fundação que faz pesquisas na área da saúde, a Fepps.

 

Mas não pense que isso vai resolver o problema financeiro do estado. Longe disso. Tudo isso vai render uns trocados, e exatamente por isso, a pressa pra votar em bloco a extinção mostra um desejo do estado de não debater com a sociedade a função e necessidade do serviço que elas prestam.

 

Não custa lembrar que aberrações como o Badesul e o Tribunal de Justiça Militar seguem intocáveis, mesmo que suas funções possam ser absorvidas tranquilamente por outros órgãos e ainda que gastem mais que muitas das extintas e de tudo o que o governo de Sartori pensa economizar com a extinção das fundações.

 

É isso mesmo: toda essa derrocada da pesquisa vai economizar menos de R$ 140 milhões por ano pro estado.

 

Esse é o problema de um governo que olha apenas pra despesa em vez de buscar novas receitas. Sem contar nos mais de R$ 15 bilhões que escorrem do caixa seja pelo ralo da sonegação fiscal ou pelos favores dos benefícios concedidos em isenções fiscais e outras renúncias de um dinheiro que faz falta exatamente nas áreas em que o estado precisaria ser eficiente para atender a demanda do cidadão comum, mas não é – a educação, a saúde e a segurança.

 

O problema é que, com uma população que a cada dia está mais atordoada pelos sucessivos e intermináveis escândalos de corrupção, é mais fácil atropelar o debate e simplesmente passar de roldão o desmonte de estruturas que em grande parte servem com eficiência e lucro pro estado misturadas com outras que merecem mesmo o destino da extinção porque não dizem respeito a funções do estado.

 

Mas a pesquisa independente que vem de instituições desligadas diretamente dos interesses do mercado é fundamental, tanto para o planejamento das políticas públicas, como o caso da fundação de estatística, como para o desenvolvimento de alternativas de renda para a agricultura familiar, como no caso da Fepagro, por exemplo.

 

 

O fato é que, mesmo sem entrar no mérito deste ou daquele, seria preciso pontuar todas essas perspectivas com tempo e diálogo aberto, e não com a obsessão de aprovar todo o pacote até o fim do ano e com a Brigada Militar transformada em cão feroz pronto pra morder quem pensa diferente dos poderosos de plantão.