Memória LEOUVE

A rebananização e a luta do roto contra o esfarrapado

A rebananização e a luta do roto contra o esfarrapado

Se alguém ainda duvidava da rebananização desta república, o episódio que envolveu a disputa entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o ainda presidente do Senado Renan Calheiros acabou com qualquer possibilidade de dúvida.

 

A banana que Renan deu ao STF é a mesma que ele dá a todos nós, botocudos, há décadas e décadas.

 

A pretexto de preservar a estabilidade política, o STF se submeteu aos caprichos de Renan e mostrou que ele está definitivamente acima da lei, acima da mais alta corte do país.

 

Mas que estabilidade é essa que mantém um réu na presidência da mais alta câmara da República? Que estabilidade é essa que é refém de um homem com pelo menos 11 processos nas costas? Que estabilidade é essa que precisa manter um cara com a folha corrida de Renan na presidência do Senado?

 

Depois de ontem, Renan pode tudo. E não importa se a liminar do ministro Marco Aurélio foi vingança porque Renan se voltou contra os supersalários dos juízes ou se é inconstitucional. Não é isso que agora vem ao caso.

 

O que fica como mensagem é que Renan é o único brasileiro que pode dizer em alto e bom som que não vai cumprir uma decisão judicial e sair sem um arranhão.

 

Pra qualquer outro de nós, não cumprir uma decisão da justiça é crime e dá cana.

 

Mas não se iludam, porque não há bonzinhos nessa história e tudo tem seu preço. Ou alguém ainda acha que Renan vai seguir batendo nos salários dos doutos magistrados ou querer enquadrar o abuso de autoridade com tanta força?

 

A verdade nua e crua é que esse episódio mostra que nesta nação de botocudos nem todos são iguais perante a lei.

 

Não custa lembrar que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha foi afastado do cargo exatamente por ser réu no STF e estar na linha sucessória da presidência. Renan também é réu e também foi impedido de assumir a presidência, mas, sem explicação, não perdeu o cargo.

 

E olha só: faltam menos de 20 dias pra acabar o mandato do Renan e, por isso mesmo, o afastamento dele não teria consequência nenhuma. Foi só uma queda de braço desnecessária entre o juiz e o ladrão, e o ladrão ganhou.

 

A verdade é que todo o episódio envolvendo a permanência de Renan na presidência do senado mostra um país completamente sem rumo, sem projeto, sem representatividade e sem conexão com a população.

 

E, cá pra nós, a autodesmoralização do STF em nada ajuda.