Memória LEOUVE

É campeão, mas eu não vou dizer

É campeão, mas eu não vou dizer

Hoje eu vou mudar o ritmo. Vou deixar de lado a política e falar sobre futebol. Porque eu sou gremista, e porque o Grêmio já é o campeão.

 

É que depois do grande jogo e do resultado de 3 a 1 diante do galo depenado em pleno Mineirão na primeira partida das finais da Copa do Brasil, o Grêmio já é campeão, e o torcedor gremista está autorizado a vestir o penta e fazer a festa guardada por 15 anos.

 

Sim. Porque o Grêmio já é o campeão.

 

Mas eu não vou dizer isso. Porque eu, que já vi imensas vitórias de um Grêmio que já ganhou tudo que disputou, também estou calejado por retumbantes fracassos.

 

Então, eu não vou dizer que o Grêmio já é o campeão. Não me peçam isso, mesmo que o Grêmio já seja o campeão.

 

Porque o que o Grêmio mostrou ontem foi uma qualidade extrema de passe, uma tranqjuilidade na saída de bola, uma velocidade na armação da jogada e uma solidez defensiva que, se tivesse continuado a jogar inteiro, com 11 o tempo todo, o Atlético estaria tentando fazer um gol até agora.

 

Mas eu não vou dizer que o Grêmio já é o campeão. Primeiro, porque futebol é futebol e porque eu respeito o Atlético Mineiro. Mas também porque eu cresci vendo o Inter ganhar todos os grenais, os gauchões e os nacionais, e nós, nada. E porque eu tinha 13 anos quando vi pela primeira vez meu time ser campeão na redenção de 1977 com André Catimba, que ali inaugurava décadas de vitórias fantásticas.

 

E, principalmente, porque o Grêmio ontem podia ter feito quatro ou cinco e matado a cobra e o galo. Porque o Pedro Rocha fez dois gols e podia ter feito quatro, mas se tivesse feito quatro não seria o Pedro Rocha e aí seria uma outra história.

 

E também por isso o Grêmio já é o campeão, mas eu não vou dizer isso.

 

Porque os títulos lá de 77, de 81, 83, 89, de 94, 95, 96, 97 e de 2001 há muito tempo já viraram memórias contadas pros filhos. E porque, nesses 15 anos de jejum, aprendi a conviver com derrotas terríveis, os pênaltis contra o Olímpia, o rebaixamento, as derrotas pro Boca na final da Libertadores, a vantagem sobre o São Paulo que esfarelou no segundo turno, a desclassificação pro San Lorenzo em plena Arena, o gol do Robinho que nos matou aquela Copa do Brasil.

 

Mas, agora, não tem Robinho que cale o grito de campeão.

 

Porque o Grêmio já o campeão, e porque ontem Renato botou o Éverton em campo em vez de recuar o time depois da expulsão e ele fez o terceiro gol, porque o Grêmio se comporta como campeão, porque o Grêmio tem a cautela do campeão, a humildade, a garra e a vibração do campeão e, principalmente, porque o Grêmio joga como campeão.

 

Mas eu não vou dizer que o Grêmio já é o campeão. Porque eu estou calejado e, claro, porque se acontecer uma terrível calamidade na Arena na próxima semana, eu já estarei vacinado e vou poder dizer que eu, pelo menos eu, não me iludi.

 

Mas eu não me iludo: o Grêmio já e o campeão.

 

Então, vamos lá, que eu preciso deixar isso aqui bem claro e registrado: o Grêmio já é o campeão, mas eu, eu não vou dizer isso.