Memória LEOUVE

Salmão chileno, vinho argentino e um café cada dia mais amargo

Salmão chileno, vinho argentino e um café cada dia mais amargo

Enquanto os nobres congressistas articulam novas manobras pra velha ideia de melar as medidas anticorrupção e seguem chafurdando na nova lei da leniência e no projeto que anistia o caixa 2, defendido abertamente por ministros de Temer pra tentar jogar areia nos olhos das investigações e garantir a impunidade geral da Nação, o país segue estarrecido acompanhando a prisão de ex-governadores do Rio e a sucessão de denúncias que se acumulam e que já não aliviam mais ninguém.

 

E ninguém mais se espanta com mais um jantar de nababos oferecido pelo digníssimo senhor presidente Michel Temer a senadores da base aliada do governo, onde novamente pediu apoio para a aprovação da proposta de emenda à Constituição, aquela mesma que limita os gastos públicos pelos próximos 20 anos.

 

E de novo eu fico pensando do alto da minha ignorância: mas se a base é aliada do governo, ela precisa mesmo ser convencida a base de salmão chileno e vinho argentino, tudo pago com o meu, o seu, o nosso suado e escasso dinheirinho?

 

E mesmo depois que a proposta já foi aprovada em dois turnos pela Câmara dos Deputados e ter passado sem emendas na Comissão de Constituição e Justiça do Senado?

 

Ou será que o Temer usou o banquete pra explicar porque disse em alto e bom som que o ex-presidente Lula, esse mesmo apontado pelo ministério público como o chefe da quadrilha do petrolão, e que é réu em três processos por suspeita de corrupção, não deve ser preso pra não prejudicar o seu governo?

 

Ou então vai ver que o assunto do jantar de ontem foi o vergonhoso bate-boca entre os excelentíssimos ministros do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, que disputaram na baixaria que é o mais heterodoxo em matéria de quebra de decoro e falta de um mínimo sentido de decência.

 

Sinceramente, eu não sei mais nada. Só sei que a sobremesa e o cafezinho devem ter sido acompanhadas de impressões profundas sobre o patético interrogatório da mulher do Eduardo Cunha, a jornalista Cláudia Cruz, em mais um tapa na cara da sociedade brasileira.

 

É que ela se recursou simplesmente a responder perguntas do juiz Sérgio Moro ou dos acusadores do Ministério Público e apenas respondeu a um roteiro estudado e encenado com os seus próprios advogados. Tudo isso sem a mínima contestação.

 

Sei lá.

 

O certo mesmo é que última baforada do charuto, cubano é claro, que ganhou o ar do Alvorada encerrando a noite passada certamente comemorou mais um alívio pros corruptos de sempre: é que essa semana caducou o processo que tratava das denúncias sobre um dos maiores escândalos do governo de Fernando Henrique Cardoso.

 

Pra quem não lembra, la em 1998, quando o governo estava em busca da reeleição mentiu que não iria desvalorizar o sobrevalorizado real e, logo depois de empossado, em janeiro de 1999, deixou o dólar amanhecer um belo dia mais de 30% mais caro e, claro, quebrou muita gente desavisada, menos os amigos do rei, que sabiam de tudo.

 

 

Nada mais normal neste país de botocudos, né mesmo? Mas, pra mim, sinceramente, esse cafezinho está cada dia mais amargo.