Memória LEOUVE

Presídios, precisamos falar sobre isto

Presídios, precisamos falar sobre isto

 

Velhos conceitos costumam estar corretos, afinal, são lapidados, como as rochas, com o passar do tempo. Mesmo assim é preciso, revisitá-los vez por outra e ver se não estaria na hora de atualizá-los. Quem mostrou isto ainda esta semana foi a Academia Sueca ao conceder um Nobel de Literatura a um astro pop, que se notabilizou por escrever músicas e não literatura em prosa ou compêndios poéticos.

Pois acordei ouvindo aquela vela retórica de que construir presídio não dá voto. Será mesmo? A gente sabe que 95% da população não quer um presídio no seu quintal. Mas em qualquer pesquisa, da científica à conversa de bar, se pode constatar hoje que a falta de segurança é uma das maiores fontes de preocupação das pessoas. Os próprios candidatos que foram ás ruas pedir votos naquela oportunidade quadrianual de conversar com o cidadão comum – sim a maioria dos prefeitos ouve mesmo a população a cada quatro anos, depois prefere ficar ouvindo conselhos de puxa-sacos – pois estes políticos constataram que a insegurança apavora o cidadão.
Então as soluções são as mais diversas e tangenciam o ponto nevrálgico da questão. Câmeras de segurança ajudam a prevenir; guarda armada reprime e manda o bandido para outro lugar; armar as polícias ajuda a confrontar. Mas pra tirar bandido da rua hoje o que falta mesmo é presídio.

Ora, se o Brasil tem hoje um código penal que permite ao apenado que tenha bom comportamento sair após cumprir um sexto da pena, isto não é uma benesse apenas para o cidadão que delinquiu eventualmente. Serve para aliviar a pressão de um sistema prisional com déficit de praticamente 250 mil vagas obrigando juízes a diárias escolhas do tipo quem fica preso, quem vai para casa mesmo sem ter cumprido toda a pena?

Assim, precisamos falar sobre isto. É necessário que se encontre soluções sem cair no novelo da procrastinação com a burocracia. Vejam o exemplo de Bento Gonçalves. Há um presídio com projeto pronto. Perdeu-se a verba federal, mas a sociedade encontrou outra fonte de recursos, que é a permuta entre particulares e o Estado. Imóveis subutilizados pelo estado ressarcirão a construção da casa prisional. Basta vontade política e que as secretarias envolvidas se entendam. Quem conhece os meandros da política, sabe que isto não é pouco.

Então meus amigos, diria o Nobel Bob Dylan ainda lá em 1962, “Quantos oceanos uma pomba deve atravessar até poder dormir na areia branca? E quantas vezes o homem pode virar a cabeça e fingir que não vê… a resposta está soprando no vento”.