Memória LEOUVE

Batman e o efeito placebo

Batman e o efeito placebo

A cada novo final de semana, cresce cada vez mais a sensação de que a segurança pública do estado está mesmo em colapso. Atolado em dívidas e com dificuldades de pagar em dia o salário dos seus servidores, inclusive das polícias civil e militar, o Rio Grande do Sul vive hoje uma escalada inédita da violência.

 

O pior é que a soma dos fatores que culminaram na onda de criminalidade que aterroriza os gaúchos, e as medidas que foram tomadas até agora, como a substituição do secretário de Segurança e o envio de tropas da Força Nacional ao estado, têm apenas um efeito simbólico, o efeito placebo de quem acha que toma o remédio quando está apenas estimulando a imaginação.

 

Porque a verdade mostra uma realidade bem diferente, mostra que o remédio não funciona, porque a redução do efetivo policial segue crescente e alarmante, e a liberação de horas extras e a convocação dos dois mil concursados nem de longe resolvem a questão.

 

Pra você ter uma ideia do tamanho do problema, nós temos em média 18 mil policiais atuando em todo o estado atualmente. Nos anos 1990, há mais de 20 anos portanto, eram 25 mil homens e, hoje, o número considerado ideal pra dar conta de toda a demanda seria cerca de 35 mil, quase o dobro do número de policiais que temos nas ruas hoje.

 

E, sem demonstrar capacidade de reação, as autoridades adotaram um discurso de conformismo, onde os comandos das polícias dizem que não tem o que fazer, que é melhor evitar sair à noite, que o aumento da criminalidade está acontecendo em todos os estados e que o melhor é chamar o Batman.

 

A verdade é que o problema é ainda maior que a pouca quantidade de policiais nas ruas e o aumento natural da criminalidade. A questão é que a atual política de segurança acabou priorizando a repressão ao varejo da droga, desmontando bocas de fumo e prendendo pequenos traficantes, o que não tem grande impacto sobre os crimes mais violentos.

 

Isso acabou abrindo espaço para a disputa de território do tráfico e à renovação das lideranças nas facções criminosas, que instauraram uma nova lógica de violência, baseada no extermínio dos grupos rivais para o controle do mercado da droga.

 

Além disso, ampliou a taxa de encarceramento num sistema de precariedade dos presídios gaúchos superlotados e nas mãos do crime organizado, o que acaba aumentando ainda mais o contingente desses grupos.

 

 

E assim acabamos entrando em um ciclo vicioso em que a criminalidade aumenta, o governo reduz o controle, a polícia se torna mais violenta, a população aplaude e continua colocando a culpa na impunidade.