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A estreia O Homem nas Trevas provoca calafrios

A estreia O Homem nas Trevas provoca calafrios

Em meio a um cinema tão pretensioso e pautado por grandes projetos ou filmes deliberadamente fora da curva, é cada vez mais raro se deparar com um filme como “O Homem nas Trevas”, um suspense barato, sem nenhum astro e com um diretor ainda iniciante. É raro estúdios abraçarem projetos como esse atualmente e o fato de Sam Raimi, da primeira trilogia “Homem- Aranha”, ter apadrinhado Fede Alavarez, uruguaio que dirigiu a refilmagem de “A morte do Demônio” (2013), influenciou a decisão da Sony de patrocinar uma produção tão inusual no cenário cinematográfico atual.

 

A grande sacada do enxuto “O Homem nas Trevas” é perverter a lógica de mocinho e vilão ao longo da projeção. Apesar desse interessante viés narrativo, não é um filme com mais ambição do que se valer como boa hora e meia de entretenimento. Coincidência ou recompensa para tanto despojamento, a produção ostenta o melhor – e mais assustador – vilão do ano. Rocky (Jane Levy), Alex (Dylan Minnette) e Money (Daniel Zovatto) costumam praticar pequenos furtos em casas de um subúrbio em que a maioria das residências tem alarmes instalados pela empresa do pai de Alex. É um esquema relativamente seguro e que mantém o garoto próximo de Rocky, por quem Alex nutre sentimentos. A menina é namorada de Money, que apresenta ao grupo um assalto aparentemente fácil: roubar a casa de um veterano de guerra cego que guarda uma fortuna oriunda de uma indenização pelo atropelamento de sua filha.

 

Interpretado por Stephen Lang, de “Avatar” e da série “Into The Badlands”, o homem cego não só se prova menos indefeso do que a trupe esperava, como revela um sadismo cada vez mais desconfortável para a audiência. Lang cria seu personagem como um ser humano em escala regressiva a sua condição mais animalesca. O fato de o personagem confiar mais em outros sentidos, uma vez que não tem a visão, – e pouco falar – o tornam muito mais assustador. É bem verdade que Fede Alvarez aposta em mais reviravoltas do que o desejável, mas o jogo de gato e rato entre o homem cego e esses nem tão ingênuos pós-adolescentes é uma das coisas mais empolgantes do cinema na temporada. E das mais tensas também. Da trilha sonora, que utiliza sons da própria casa para temperar a música do filme, às boas soluções visuais que encenam essa caçada no escuro e em um ambiente fechado – dando mais vigor ao título original “Don´t Breathe” (não respire, em tradução literal) – o filme é um acerto do início ao fim.

 

Sem a expectativa de metaforizar nada sobre a condição humana ou de prover grandes insights sobre honra ou qualquer coisa do gênero, “O Homem nas Trevas” é um suspense de primeira linha. Do tipo que Hollywood produzia aos borbotões e que hoje é recebido com grande festa, e estardalhaço nas bilheterias (o filme lidera o box office americano há duas semanas), por ser algo tão incomum.

 

Fonte: IG