Memória LEOUVE

A escolha de Sartori

A escolha de Sartori

Não é de hoje que eu desconfio que o governador José Ivo Sartori anda muito mal assessorado lá no solitário gabinete do governo gaúcho.

 

É que não dá pra imaginar que Sartori tenha tanta capacidade de atirar no próprio pé sozinho.

 

Primeiro, foi o mais recente parcelamento dos salários do funcionalismo, quando ele anunciou míseros 600 pilas nas contas dos servidores e, menos de meio dia depois, tempo suficiente pra uma enxurrada de críticas e ameaças de paralisação, anunciar mais um dinheirinho pros combalidos bolsos dos funcionários do Estado.

 

Antes tinha sido o episódio do anúncio da convocação de 220 novos policiais pra reforçar a segurança. Depois da avalanche de críticas pesadas, o governador anunciou que vai convocar todos os concursados lá de 2014, pouco mais de dois mil policiais.

 

Mas agora talvez tenha sido mesmo o absurdo maior: convocou o companheiro Cezar Schirmer pra assumir a secretaria da segurança do Estado na maior crise do setor.

 

Logo Schirmer, o homem assombrado pela morte de 242 pessoas na tragédia do incêndio da boate Kiss em Santa Maria.

 

O problema é que, mesmo que Schirmer tenha mesmo as qualidades que levaram Sartori a apostar todas as suas fichas no amigo, a repercussão dessa indicação é extremamente negativa, pra dizer o mínimo, e os sinais são de que o governo não é mesmo tão sério quanto deveria.

 

Porque é decepcionante que o senhor governador faça uma opção pessoal, certamente baseada em critérios partidários, no momento de maior crise da segurança na história recente do estado, quanto todos os gaúchos esperavam a nomeação de um especialista, com conhecimento e trajetória comprovados na área, um homem capaz de liderar uma reação à criminalidade assustadoramente crescente.

 

Um homem como o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, ou o agora ex-secretário de segurança do Rio, José Mariano Beltrame. Dois gaúchos, os dois ligados ao partido do governador.

 

Quanto a Schirmer, mesmo que ele seja um político experiente e que a Justiça tenha descartado sua responsabilidade na tragédia da boate, essa marca vai acompanhar sua biografia pra sempre. E agora, será ele que vai comandar o Corpo de Bombeiros e a política de segurança do Estado.

 

 

O certo é que não há alívio possível para o senhor governador, e a escolha de Schirmer desgasta ainda mais e profundamente a imagem já arranhada do governo. Mas, pior que isso, dá sinais de que, antes de indicar uma virada na segurança pública, Sartori preferiu aproveitar a oportunidade pra salvar a pele do companheiro.