Memória LEOUVE

Negócio da China

Negócio da China

Enquanto os protestos do Fora Temer se espalham e ganham força pelo país mostrando uma repressão por vezes violenta da polícia a manifestações que misturam protesto legítimo com vandalismo e uma resposta também violenta, o agora definitivo presidente Michel Temer só esperou vestir a faixa presidencial pra embarcar pra China.

 

Enquanto isso, por aqui, o país ainda mostra que vai demorar um tempo pra curar suas cicatrizes e lamber suas feridas em plena crise.

 

Afinal, uma presidente foi cassada porque se tornou profundamente impopular quando a recessão se instalou e ela não conseguiu construir apoio suficiente pra governar com eficácia. Um verdadeiro negócio da China entre Temer, que ganhou o posto mais alto da República, e o Congresso, que ganhou o perigoso poder de derrubar um governo por má gestão e falta de apoio popular, prerrogativas de um regime parlamentarista.

 

O certo é que as feridas ainda doem em um país convulsionado pelo impeachment, pelo desemprego e pelas medidas impopulares que certamente vem por aí.

 

Mas também é certo que o novo governo precisa dar sinais concretos pra começar a reconstruir a confiança dos brasileiros em uma elite política atolada em denúncias de corrupção.

 

E, pra isso, Temer precisa fortalecer as investigações de corrupção e rejeitar as manobras legislativas destinadas a enfraquecer a Lava-jato.

 

Porque o último sinal foi bem claro: o Senado poupou os direitos políticos de Dilma pra poupar ali adiante os direitos políticos de Cunha, e os de tantos outros jucás, calheiros e sarneys, envolvidos até o pescoço em escândalos e ameaçados pela espada da delação agora homologada de Sergio Machado.

 

A privatização de estatais ineficazes e a reforma do inchado sistema de aposentadorias do país vai exigir habilidade política. Equilibrar o orçamento vai cobrar cortes dolorosos, mas Temer não pode governar como se estivesse ali pela vontade do povo porque ele não está.

 

E até que os brasileiros possam eleger um novo presidente, em 2018, ele precisa honrar pelo menos o mínimo das garantias sociais que permitiram a eleição dos últimos governos.

 

 

É certo que os ajustes são necessários e não podem esperar, como também não pode esperar a luta contra a corrupção. Doa a quem doer.