Memória LEOUVE

Descanse em paz Lunelli

Descanse em paz Lunelli

São linhas difíceis de escrever. Embora não creia ser mais ou menos amigo do falecido Roberto Lunelli do que na média foram outros tantos jornalistas que dele estiveram próximos. Será preciso me equilibrar entre a análise fria e o calor das lágrimas. Perdoem se não conseguir, estou de luto. Afinal, Lunelli com aquele seu jeito autêntico era o professor que veio da roça, acolhedor e político que ainda buscava a definitiva afirmação. Acabava se fazendo chegar mais perto de um jornalista do que o habitual. Este era seu jeito natural e eu reconhecia isto como algo positivo. Era humano.

 

Uma eleição sempre tem um peso relativo na vida das pessoas. Um êxito significa muito, uma derrota pode marcar para sempre. Há quem nela se fortaleça ou quem a partir dela dê um adeus definitivo às pretensões eleitorais.

 

Com a morte é diferente. Tirando o aspecto religioso que ajuda a confortar e aceitar, a morte nunca é relativa. É definitiva. Terminal. Sem recurso, sem desculpa, sem meio termo. E ela encontrou o ex-prefeito numa tarde chuvosa de sábado.

 

Lunelli parte deixando não apenas uma viúva, um filho e irmãos enlutados. Deixa órfãos inúmeros companheiros, eleitores, alunos, amigos. E muitos irmãos que nem eram filhos de seus pais. Era carismático, alegre, forte. Apanhou, aguentou. Foi denunciado, julgado, se defendeu. Ganhou aqui, perdeu ali e foi condenado. Deve ter errado. Mas não desistiu. Tentava se eleger atendendo apelo dos companheiros, mas antes de tudo por convicção pessoal. Tinha a confiança de muitos e desejava provar àqueles que dele desconfiavam que podia e queria fazer mais e fazer melhor do que na primeira vez.

 

Lunelli soube levar pancada quieto. Manteve até o último instante consigo a decisão que todos aguardavam: sim, ele vinha para a briga, mesmo sabendo que, de novo, seria alvo de muitas críticas e ofensas. Desconfio que não seria bom de briga. Ainda na semana passada (ou foi há 15 dias)? Me disse que não guardava mágoas de um conhecido em comum que lhe voltou as costas. Era isso mesmo. Absorvia, e seguia em frente. Pensava mais naqueles que lhe queriam bem do que nos que o atacavam.

 

Ele perdeu a eleição de 2012. E não desistiu. Tentaria agora se eleger novamente. Mas isto seria apenas um episódio eleitoral. Tão menor do que aconteceu nesta tarde de sábado. Se Lunelli não será mais o prefeito, alguém será. O professor dedicado, o pai atencioso e o amigo de tantos, estes farão muita falta. Uma tragédia. E este é o caso de nos voltarmos aos desígnios divinos: o que este final imprevisível está querendo dizer? Do que será que Roberto Lunelli foi poupado que nós, os que permanecemos aqui, não seremos? Descanse em paz.