Memória LEOUVE

O ensino público ameaçado

O ensino público ameaçado

Não é de hoje que, toda a vez que o país enfrenta uma crise econômica, a educação é um dos primeiros setores a pagar o preço. Por isso, não surpreende agora os cortes em programas de bolsas de pesquisa, como o Pronatec e o Ciência sem fronteiras e o retorno de críticas ao sistema público de ensino.

 

Uma dessas iniciativas volta à cena agora, com o debate sobre a gratuidade do ensino superior, que começa a enfrentar inimigos poderosos. Não é a primeira vez. Já foi assim na década de 60, nos anos 80 voltou e nos 90 também, com a proposta de cobrar taxas nas universidades públicas, e agora não é diferente.

 

O que é diferente é que agora a tese tem o apoio do governo interino e da Globo, que já começou uma campanha para desacreditar o ensino superior gratuito em um editorial do jornalão dos Marinho.

 

A questão bate sempre na mesma tecla: se a maioria dos alunos nas universidades públicas são das camadas mais ricas da população, a gratuidade para esses estudantes seria um privilégio a mais.

 

O argumento não deixa de ter certa razão, mas a justificativa parece simplista demais.

 

Porque mais do que cobrar mensalidade, o país precisa repensar toda a política educacional, e essa iniciativa isolada não vai reverter o cenário precário da educação atual.

 

Hoje, assistimos a cortes seletivos que reduziram drasticamente o orçamento das universidades federais, mas preservaram os recursos repassados à iniciativa privada através do Fies e do Prouni, indicando que é o ciclo de expansão da rede federal que está sendo encerrado, e que agora a educação superior será tratada de novo pela lógica do mercado.

 

Mas a verdade é que precisamos ter um sistema forte desde o ensino básico atá a educação superior, uma formação que nos transforme em melhores cidadãos e capacite os melhores profissionais, seja para produzir o nosso desenvolvimento material, seja para expandir os limites da nossa democracia, seja, enfim, para propor soluções que desenvolvam padrões elevados de vida para todos os brasileiros.

 

 

O certo é que é preciso debater seriamente a democratização do acesso às universidades públicas, e garantir que o governo siga investindo em ensino superior e, também, é claro, em educação básica. Tudo com muita qualidade. É simples assim.