Memória LEOUVE

A ambição de Prometeu

A ambição de Prometeu

Desde ontem, o Rio Grande do Sul é um estado olímpico. É que a tão esperada tocha que simboliza os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro chegou por Erechim e fica por aqui toda esta semana, passando por 28 cidades gaúchas.

 

E é claro que o revezamento da tocha já rendeu manifestações contrárias e protestos pelo país inteiro, gente que tentou apagar o fogo, gente que foi presa por isso e até a morte da onça Juma manchou um pouco a festa.

 

Por isso, para garantir o clima de festa por aqui, a secretaria de Segurança já adotou alguns cuidados, e o governo até negociou uma espécie de trégua com os movimentos sociais para que eles não convoquem manifestações contrárias durante a passagem do símbolo máximo do espírito olímpico em solo gaúcho.

 

Acho que vencer essa prova vai ser mais difícil que ganhar qualquer medalha de ouro.

 

Mas a verdade é que os protestos não são uma novidade brasileira, e até o Comitê Olímpico Internacional, que promove as Olimpíadas, chegou a anunciar o fim do revezamento depois dos protestos que marcaram a passagem da tocha pela China durante as Olimpíadas de 2008 em Pequim.

 

Mas não deu certo, é claro. Quatro anos depois, 30 cidades inglesas tiveram a chance de fazer festa e protesto durante o período em que conviveram com a chama sagrada nas Olimpíadas de Londres.

 

No Brasil, os protestos são reduzidos a notas de rodapé nos jornais, mas estavam lá na maioria das cidades que a tocha já passou.

 

Acho que por aqui não será muito diferente. É que, mesmo que a passagem da tocha não exija grandes investimentos das cidades porque tem megapatrocinadores jorrando dinheiro e bebendo lucros, o período crítico na política e na economia, tanto no país como no estado, gera muita insatisfação.

 

O certo é que, desde que Prometeu roubou o fogo dos deuses para dar aos homens junto com as ciências e as artes, inaugurando a ambição do homem moderno, é a insatisfação o principal motor da humanidade, para o bem ou para o mal.

 

Mais alto, mais forte, mais rápido, promete o lema dos jogos olímpicos, que há muito superou o barão aquele que dizia que o importante mesmo era competir, numa prova mais que definitiva de que foi a ambição que venceu esse jogo.

 

O problema é que, mesmo que os jogos olímpicos e o fogo crepitando na pira dos estádios signifiquem que nós pedimos perdão pela audácia de Prometeu, os deuses não têm nos tratado assim tão bem.

 

 

Para quem não lembra, diz o mito que Prometeu sofre até hoje, acorrentado e tendo seu fígado devorado por toda a eternidade, por urubus famintos. E eu aqui, reles mortal, rogo aos deuses que essa não seja essa a nossa sina.