Memória LEOUVE

Cachoeira de propina

Cachoeira de propina

A notícia de que a polícia prendeu ontem o empresário Carlinhos Cachoeira não é assim nenhuma novidade. Afinal, não é de hoje que o cara frequenta as crônicas policiais como protagonista de escândalos de corrupção nesse nosso país pródigo em fabricar anti-heróis.

 

Para quem não ligou o nome à coisa, o homem até já deu nome a uma CPI, que investigava jogos ilegais, crime organizado e a ligação disso tudo com o financiamento de campanhas em 2010, do PT e de outros menos cotados, e outras propinas mais.

 

Para variar, a tal CPI fez muito barulho por nada, como de praxe: não indiciou ninguém e, depois de oito meses, acabou em pizza.

 

Pois a fatia servida agora pela polícia também é bastante saborosa: a Operação Saqueador investiga um esquema de lavagem de dinheiro que aponta para uma quantia inicial de R$ 370 milhões desviados dos cofres públicos.

 

Mas, em um país acostumado a novas e recorrentes denúncias de esquemas e escândalos a cada leitura de jornal em cada novo café da manhã, nada para espantar.

 

O que me espanta mesmo é saber que Cachoeira ainda estava solto.

 

É que nem precisa forçar muito a memória para lembrar que o cara é condenado a quase 40 anos de prisão pelos crimes de peculato, corrupção, violação de sigilo e formação de quadrilha.

 

O que me deixa estarrecido é saber que, com toda essa ficha corrida, ele responde aos crimes em liberdade depois de ter cumprido só nove meses atrás das grades.

 

Agora, o Ministério Público descobriu de novo o fio da meada criminosa do Cachoeira em fraudes que envolvem contratos bilionários com o DNIT, órgão responsável, por exemplo, pela manutenção e duplicação nas estradas federais. São R$ 11 bilhões, e você pode imaginar o que se pode fazer com um dinheiro desses? Muita coisa, não é mesmo?

 

Não é mesmo. Segundo a denúncia, a empresa Delta contratou empresas fantasmas criadas por Cachoeira e outros considerados operadores do esquema e chefes de organizações criminosas, para lavar o dinheiro desviado e, claro, não prestar serviço algum.

 

Provas e condenação, como se vê, tem de sobra para manter o cara vendo o sol nascer quadrado ad seculum seculorum.

 

Mas o problema é que aqui no Páis dos Botocudos não há impedimento para que alguém seja condenado a 40 anos e essa pena seja recalculada, ou o processo seja anulado, ou então que o réu aguarde o julgamento do recurso em liberdade mesmo já tendo sido condenado.

 

 

E é isso que, sinceramente, é difícil entender. Principalmente gente como nós que está cansada desse mar de lama de corrupção. Afinal, como explicar que, na imensa maioria das vezes em que há poderosos na berlinda, o tempo do processo não é nem de perto o mesmo tempo da sociedade?