Memória LEOUVE

De vinhos e juízes

De vinhos e juízes

Eu ainda era um completo neófito nesta arte de beber vinhos e entender o que seu estava consumindo. Olfato, cor, gosto e retrogosto. Um universo de varietais, cada um com as suas propriedades e características, algumas únicas, outras convergentes. Eis que, numa segunda reunião da confraria – saudades dos confrades – vejo dois pesquisadores com larga experiência e alguns hectolitros bebidos ao longo dos anos, divergindo sobre um determinado vinho.

 

“É merlot” disse Rivaldo. “É cabernet”, disse Rizzon. E já não lembro quem ganhou o tira-teima, mas bastou olhar o rótulo do vinho para que a dúvida deixasse de existir. E aí está uma das graças na arte de degustar bons vinhos. Eles suscitam debates e análises sensoriais que acabam encontrando pontos em comum, mas cada um pode ter a sua impressão sem que isto tire o prazer da degustação.

 

Pois ontem o ministro Teori Zavaski, do STF entendeu não haver elementos suficientes no pedido de prisão contra senadores da república e o ex-presidente José Sarney que o procurador da República Rodrigo Jannot encaminhou. Assim os senadores continuam telefonando e tramando modos de bloquear a lava-jato enquanto a gente pergunta: como é que podem duas sumidades do direito terem entendimentos simetricamente opostos sobre um mesmo fato? Não deveriam ser mais objetivos os entendimentos do judiciário e desta forma propiciar penas similares para casos parecidos?

 

Pois então. Não e assim. Ficamos sem entender claramente os critérios para a promoção da Justiça e com isto vejo cada vez mais advogados desencantados com a profissão. Seria este o motivo pelo qual os legislativos estão sempre apinhados de advogados? Desencanto com a profissão e desejo de criar leis mais justas? Ou o simples desejo de não dependerem de interpretações tão aleatórias sobre suas contendas?

 

 

Certo que ao degustar um vinho podemos considerá-lo bom ou ruim e é de cada um o julgamento final sobre dele gostar ou não. No direito, o que vai prevalecer é o entendimento de um doutor togado ou de um colegiado. E sempre haverá partes inconformadas com a decisão.