Comportamento

Frente a números preocupantes, Caxias do Sul conta com rede de apoio a pessoas com tendências suicidas

Profissionais capacitados estão disponíveis para acolher pessoas com depressão; serviços também estão acessíveis na saúde pública

(Foto: Canva)
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Um número alarmante chama atenção na Serra Gaúcha, especialmente em Caxias do Sul, no número de suicídios registrados em 2023. Atualmente, mais de 40 pessoas, principalmente homens e jovens, acabaram se autodestruindo na cidade, motivo de preocupação para os órgãos de segurança. Com isso, a grande rede de apoio está disponível para pessoas que precisam de ajuda e assim, prevenir o suicídio.

Profissionais destacam a importância da acolhida para quem precisa de ajuda, ser ouvido. Caxias do Sul conta com uma extensa rede de apoio, inclusive, disponíveis gratuitamente na saúde pública.

CVV – Centro de Valorização da Vida

O Centro de Valorização da Vida (CVV) é um projeto que funciona há mais de 60 anos e atua como um serviço de apoio emocional. O CVV foi criado por um grupo de jovens, que, preocupados com a alta taxa de suicídios, abriram as linhas para escutar os que precisavam. Primeiramente, o serviço era para ser apenas temporário, contudo, permanece há 61 anos. Conforme o voluntário José Theodoro, o serviço está disponível para quem estiver disposto a receber ajuda, através da escuta e com total sigilo. “O serviço funciona com o acolhimento, sem julgamento, não julgamos as pessoas. É um serviço de escuta, escutamos as pessoas e nos colocamos à disposição delas. O CVV atende 24  horas para ouvir, sem julgar essa pessoa”.

O voluntário também lembra que o serviço de atendimento é nacional, com mais de 120 postos pelo país, além de contar com mais quatro mil voluntários espalhados pelos Estados brasileiros. O último levantamento realizado pelo CVV apontou que o serviço foi utilizado por 3 milhões de ligações anuais, através do 188, que no ano de 2015, o Ministério da Saúde percebeu que o serviço de escuta poderia ser de utilidade pública, assim, destinando o número 188 para as pessoas utilizarem gratuitamente.

“É um serviço de prevenção ao suicídio. O suicídio é uma doença e os números estão aí. Não somos, por exemplo, captadores de números, nem formadores de estatísticas, não somos psicólogos, nem filósofos. Somos voluntários, que colocam quatro horas por semana do seu tempo para ouvir as pessoas, e acolher, na sua dor, no seu sofrimento. As pessoas que precisam conversar, e querem, pois tem que ter essa iniciativa de querer conversar, podem ligar 188 onde sempre vai ter um voluntário à disposição dessa pessoa pelo tempo que ela precisar”, ressalta José.

O olhar psicológico

Para a psicóloga clínica Winnye Maschio, especialista em psicanálise na cidade de Caxias do Sul, não há uma única causa para as pessoas cometerem suicídio, e lembra que o assunto afeta principalmente os adolescentes e jovens. “Infelizmente, não é só aqui na cidade que os casos de suicídios entre os adolescentes tem aumentado, e o número é assustador. A gente não consegue dizer uma única causa para esses acontecimentos, mas sabemos que falta um olhar para os adolescentes. Falta, principalmente, conscientizar que doença mental, sofrimento emocional não é frescura e isso precisa ser cuidado. Tirar um pouco do preconceito existente e normalizar, da mesma forma que a gente vai ao dentista, a gente vai ao psicólogo, a gente vai ao psiquiatra”, relata.

A profissional destaca também que devido a correria do dia a dia, o acompanhamento dos pais com os filhos não ocorre de forma mais precisa, observando e estando em alerta ao comportamento dos jovens. “Vejo que a principal alteração de comportamento é aquele isolamento, quando o adolescente se fecha na bolha dele. Ele perde o interesse por algumas atividades, por coisas que antes ele gostava, então ele não quer mais fazer essas atividades, não participa mais das refeições em família, optando por comer sozinho no quarto, fica exclusivamente no videogame, no celular. Ali já se ascende um alerta de que alguma coisa pode estar acontecendo de diferente”. Winnye observa que, para diferenciar se aquele jovem está passando apenas por um dia ruim ou se ele precisa realmente de ajuda, tem que analisar a duração desse comportamento. “Se é só um dia que ele não está bem, que ele não está legal, isso vai passar. Mas quando isso se torna recorrente, precisa sim de um olhar mais atento dos pais e também, de um auxílio de um profissional”.

Alguns casos acolhidos pela profissional são de adolescentes, com baixa autoestima, com dificuldades de relacionamento, jovens que perderam interesse em atividades que antes gostavam muito, pensamentos distorcidos e suicidas, além de quadros depressivos, são as principais demandas do consultório.

Serviços disponíveis pela Saúde de Caxias do Sul

São ofertados pela Secretaria da Saúde, por meio da Rede de Atenção Psicossocial, assistência às pessoas em sofrimento psíquico. O trabalho realizado pela Rede consiste no atendimento terapêutico multidisciplinar, individual e em grupo, com foco na escuta, realização de oficinas, consultas e outros.

As pessoas que se sentirem em sofrimento podem buscar auxílio na Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima de suas casas, que fará o acolhimento e encaminhará ao serviço mais adequado, ou então procurar um dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS):

CAPS Cidadania
Rua Plácido de Castro, 733 – Exposição
Atendimento ao público: Segunda a sexta – das 8h às 18h
Telefones: (54) 3901.1324 / 3228.5519
Celular: (54) 98421.0094

CAPS Integração
Endereço: Rua Duque de Caxias, 2631 – Pio X
Atendimento ao público: Segunda a sexta – das 8h às 18h
Celular: (54) 98418 6410 / (54) 98429 6217

CAPS Infantojuvenil Mosaico Aquarela
Rua dos Ipês, 715 – Cinquentenário II
Atendimento ao público: das 8h às 18h
(54) 3901.1296 / 3901.1624
Celular: (54) 98418.8409