Brasil

Entidades e estudantes aprofundam o debate sobre o Novo Ensino Médio

Em Porto Alegre, seminário apresentou preocupações sobre a reforma e defendeu a realização de uma conferência nacional de Educação

(Foto: Christoffer Dalla Lana / 39º núcleo-Cpers)
(Foto: Christoffer Dalla Lana / 39º núcleo-Cpers)

Debates sobre o Novo Ensino Médio (NEM) são promovidos no país, em paralelo à Consulta Pública de Avaliação e Reestruturação da Política Nacional de Ensino Médio, lançada no final de abril pelo Ministério da Educação (MEC). Ontem (16), em Porto Alegre, entidades escolares e sindicais reuniram-se no Colégio Estadual Júlio de Castilhos para expor preocupações sobre a reforma.

O seminário, proposto pelo 39º Núcleo do Sindicato dos Professores do RS (Cpers), teve apoios, como do Comitê pela Revogação do NEM e da Faculdade de Educação da Ufrgs (Faced). A diretora do 39º Núcleo do Cpers e integrante do Comitê, Neiva Lazzarotto, mediou a discussão. “Precisamos nos mobilizar. Queremos uma conferência nacional de Educação e vamos cobrar isso. Estamos lutando para que nossa juventude possa fazer o que quiser”, resume.

A professora da Faced, Patrícia Marchand, avalia que a reforma “atinge, de forma mais significativa, as escolas públicas”. Ela admite que o Ensino Médio precisa de modificações, mas entende que é preciso debates com a comunidade escolar, para a construção de um modelo que atenda às necessidades dos estudantes. “Se formos analisar os componentes curriculares, com exceção de Inglês e Literatura, todos os demais da formação geral básica tiveram redução, inclusive Português e Matemática, matérias que acompanham os alunos nos três anos do Ensino Médio.”

Patrícia também explicou aos presentes como fica a divisão da carga-horária do currículo, que com o NEM se divide em 1,8 mil horas para formação geral, com componentes estabelecidos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e 1,2 mil horas para os chamados itinerários formativos ou trilhas de aprofundamento, com disciplinas escolhidas pelos alunos. “Eles têm que fazer escolhas prematuras relacionadas com a área de profissão, com base em trilhas organizadas pela Secretaria da Educação do RS.” Ela ainda salientou que, com estes novos componentes, professores ficam sobrecarregados e a qualidade da educação é comprometida. “Conheço um professor que trabalha oito componentes diferentes, alguns nem estão dentro da sua área de formação.”

Outra crítica levantada no seminário, foi a oferta na modalidade de Educação a Distância (EAD) para parte da carga horária destinada aos itinerários formativos. “Não foram considerados todos os problemas que tivemos com o ensino remoto durante a pandemia”, destacou Patrícia, revelando que para turmas diurnas, 20% da carga horária pode ser EAD; para turmas noturnas, o percentual aumenta para 30%; e, para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), chega a 80%. “Quais as condições pedagógicas e estruturais que escolas públicas têm, muitas sem laboratório de informática, para ofertar o ensino a distância?”

Estudantes expõem fatos e argumentos

O presidente da União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas (Uges) e aluno do Instituto Federal do RS (IFRS), Anderson Farias, assinalou a necessidade de revogação completa da reforma. Ele argumenta que a preocupação deveria ser na garantia de estrutura de qualidade e de transporte aos alunos.

Para Mateus Vicente, integrante do “Movimento Ocupe” e do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual Coronel Afonso Emílio Massot, na Capital, o NEM “amplia o abismo entre as escolas públicas e privadas”. Ele conta que muitos alunos vão para o Ensino Médio com planos, mas a reforma restringe as opções de formação. “Os sonhos da juventude estão sendo roubados, dizem que podemos escolher, mas não temos escolha.”

Alunas do Colégio Estadual Inácio Montanha, em Porto Alegre, avaliam que os Itinerários Formativos não preparam os jovens para o Enem ou para o vestibular. Explicam que alguns tópicos trabalhados não são conhecimentos científicos.

Estiveram presentes no encontro alunos e professores das escolas estaduais de Ensino Médio: Desidério Torquato Finamor; Inácio Montanha; Infante Dom Henrique; Emílio Massot; e Júlio de Castilhos. Além destes, também compareceram representantes do Observatório do Ensino Médio; Coletivo Alicerce; Coletivo Juntos; Ocupe; Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (Fenet); União da Juventude Comunista (UJC); 20º, 38º e 39º núcleo do Cpers; Coletivo Para Todos e Afronte Coletivo.

Nesta quinta-feira (18), às 19h, haverá mais um seminário sobre o NEM, com escolas da região Sul da Capital. Será no Colégio Estadual Engenheiro Ildo Meneghetti, no bairro Restinga.

Fonte: Correio do Povo