Memória LEOUVE

O jogo da dívida

O jogo da dívida

Mesmo que ainda não tenha conquistado uma vitória no jogo da renegociação da dívida do estado com a União, o governador gaúcho José Ivo Sartori saiu do zero a zero, e sentiu o gostinho de como pode ser ganhar esse campeonato.

 

É que, exatamente por causa do não pagamento da parcela da dívida, o governador comemorou o pagamento da última parcela do salário pedalado dos servidores estaduais, realizado ontem, como se tivesse feito o gol do título.

 

E isso só foi possível porque ainda está em vigor uma liminar concedida pelo STF, o Supremo Tribunal Federal, que impede que o governo da União bloqueie as contas do estado por causa do calote.

 

O problema é que essa vitória foi conquistada no tapetão, e a liminar só tem validade de dois meses e esse prazo tá acabando. É como se o teu melhor zagueiro recebesse o terceiro cartão amarelo num jogo encardido na véspera da final.

 

Além disso, a dívida vai acumulando, porque o governo gaúcho aproveita a medida judicial pra pedalar ainda mais as contas com a União, e isso é como um gol contra, é jogar contra o patrimônio.

 

Este é o segundo mês consecutivo que o estado não paga a parcela da dívida e, desde abril, o saldo devedor já acumula mais de R$ 500 milhões. É quase a metade do dinheiro que o estado precisa todo mês pra quitar uma folha de pagamento.

 

O certo é que a torcida permanece preocupada na arquibancada.

 

O problema é que a União joga retrancada, e a reunião de ontem em Brasília entre Sartori e o presidente interino Michel Temer pouco resolveu pra solucionar o impasse da dívida. Foi jogo pra torcida.

 

E enquanto o governo federal se fecha na defesa pra não perder o dinheiro fácil da dívida dos estados, o ataque dos governadores esbarra no Planalto como se enfrentasse um daqueles volantões brucutus que não deixam passar nada na frente da área.

 

O certo é que o jogo ainda está empatado, e parece que tudo vai ficar mesmo pra prorrogação. Na semana que vem, os times voltam a entrar em campo, e o novo ministro da fazenda, Henrique Meireles, vai de novo botar a bola no centro do gramado e começar tudo do zero.

 

E, como por aqui as metáforas futebolísticas são boas pra gente entender a realidade, a nossa situação é mais ou menos a mesma da seleção brasileira em tempos de Copa América Centenária.

 

Ontem, devolvemos o placar do maior vexame da história canarinha: fizemos 7 a 1.

 

Só que, como na geopolítica, enquanto tomamos 7 a 1 da Alemanha na Copa do Mundo, o nosso 7 a 1 a favor foi no miserável Haiti.

 

 

É como na vida: demos de goleada na miséria absoluta, mas ainda apanhamos muito pra jogar, de igual pra igual, o jogo do desenvolvimento.