O pedido de prisão de quatro poderosos do PMDB teve a força de um terremoto impossível de medir pela Escala Richter, essa mesma usada por geólogos pra medir abalos sísmicos de grandes proporções.
Mas esse tremor que abalou Brasília só pode ser medido subjetivamente, em discursos e evasivas dos congressistas, porque os seus efeitos destruidores não são sentidos na superfície, mas nas estruturas do poder.
Tá certo, faz muito tempo que eu deixei de acreditar em Papai Noel, e por isso mesmo sei que é bem difícil imaginar que o Supremo Tribunal Federal vá acatar a prisão domiciliar de um ex-presidente, José Sarney, e mandar pro xilindró gente da laia de Renan Calheiros, presidente do Senado, Romero Jucá, homem forte de Temer, e do afastado presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que, mesmo sem mandar em ninguém, manda em todo mundo.
E foi exatamente pra pressionar essa decisão que o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, deixou vazar o pedido, feito há pelo menos duas semanas. O fato é que a única certeza que temos é que a incerteza no Planalto Central não vai embora tão cedo, e que os tremores ainda serão sentidos por longo tempo.
O franco-atirador Eduardo Cunha já avisou que, se ele cair, leva pelo menos metade do Congresso com ele. E é esse medo que pode fazer com que as manobras para salvar Cunha da cassação ganhem um capítulo definitivo entre hoje e amanhã. E será mais um capítulo vergonhoso para a política nacional.
E o pior é que ninguém tem força pra mudar essa trajetória. Porque o governo interino é refém do PMDB, do Centrão e do antipetismo de tucanos e democratas, que garantiram o impeachment e a cadeira maior pro temerário presidente, e agora cobram o preço.
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Se Cunha não for preso ainda hoje, ele muito provavelmente será absolvido no Conselho de Ética, porque Temer quer assim, porque Temer já conversou com a Tia, e ela vai seguir em lugar incerto e não sabido, embora todos saibam onde ela está.
Mas se Cunha for preso, isso pode iniciar de verdade uma limpeza nos porões cheios de políticos corruptos que se infestaram como ratos nas entranhas do Congresso e do Senado. Não por bem, mas por mal.
Porque depois do terremoto, as ondas se recolhem para voltar com a força destruidora de um tsunami.
Porque Cunha é o próprio terremoto e conhece todos os podres da República. E, se ele cumprir mesmo a promessa, vai mesmo levar muita gente com ele.
Eu sei que Papai Noel não existe, mas, sinceramente, eu fico aqui torcendo pra que o tsunami venha pra lavar todo esse mar de lama, e que suas ondas levem mesmo. Seja tucano, seja petista, seja pró ou contra, seja lá quem for.
