Memória LEOUVE

Tudo está na cara

Tudo está na cara

 Não há quem resista a Odebrecht, disse o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado ao ex-Presidente da República José Sarney, no terceiro episódio da eletrizante novela das sensacionais revelações contidas nos telefonemas de Machado com, até agora, três dos homens fortes do impeachment da agora afastada presidente Dilma Rousseff e do governo interino.

 

Sarney respondeu com a precisão de um tiro: “A Odebrecht vem com uma metralhadora de ponto 100”, rebateu.

 

Sensacional e revelador como nenhuma entrevista jamais poderia ser. Os diálogos sem máscara e sem teatro, mantidos na cumplicidade e no conforto do covil dos alcoviteiros da nossa republiqueta de bananas são o retrato escancarado da falta de vergonha na cara, da total ausência de ética e moral que reina por aqui há décadas e décadas amém, que hoje é dia santo e eu estou aqui falando em lobos e demônios.

 

Que o corpo de Cristo nos perdoe e que Nossa Senhora do Caravaggio nos proteja e abençoe, mas primeiro foi a delação de Delcídio do Amaral que jogou um pouco de luz na alcateia; agora será a de Machado, confirmada ontem, que anunciará a legião.

 

Mas porque todos tem medo da Odebrecht?

 

Porque todos estão no listão apreendido na 26ª fase da Operação Lava-Jato, que nomeia pelo menos 500 políticos que teriam recebido propina da empreiteira desde os tempos em que Sarney espantava seus marimbondos de fogo no Palácio do Planalto.

 

Entre eles há ex-ministros, senadores, deputados, governadores, os homens que comandam tucanos, democratas e claro peemedebistas. A nata da malandragem.

 

O diálogo de Sarney é ainda mais revelador do que já tinham sido Jucá e Calheiros. Era preciso convencer Sarney e Calheiros de que a sangria dos políticos na Lava-Jato seria estancada com Temer. E assim foi. Por isso, acusados votaram felizes pelo impeachment; estariam protegidos com Temer.

 

E agora, o que fazer com a expectativa que depositamos no governo do interino? E porque Jucá não se ofereceu pra esclarecer tudo no foro privilegiado do STF? E porque os tucanos não defendem Aécio? Será porque todos conhecem mesmo o esquema do tucano? E é apenas coincidência que Delcídio, Jucá e Machado eram todos tucanos e conheciam todo o esquema? E porque as panelas voltaram aos armários?

 

 

O certo é que o país não pode mais esperar explicações. O que precisamos é a certeza do que é verdade e do que é mentira. Como disse o poeta Paulo Leminski, paranaense como Sérgio Moro, só existe um segredo: tudo está na cara.