Memória LEOUVE

Abaixo da linha da cintura

Abaixo da linha da cintura

Ainda de ressaca por conta do vazamento das conversas comprometedoras do agora ex-homem forte do governo, Romero Jucá, o presidente interino Michel Temer lançou ontem seus primeiros golpes pra tentar conter a crise quebrando protocolo, cometendo gafes e dando socos na mesa.

 

Tudo muito republicano.

 

Acossado como um lutador de MMA nas grades do octógono, o temerário presidente disse que não vai barrar as investigações da Lava-Jato e disse que não pretende aumentar impostos, pelo menos agora.

 

Mas ele já acenou com um golpe baixo: vai apresentar uma proposta pra limitar os gastos em educação e saúde. Essa doeu. Ninguém em sã consciência pode negar que é preciso estancar a sangria das dívidas do governo e equilibrar as contas, e que soluções amargas serão necessárias. Mas cá pra nós, será que ninguém tem uma ideia melhor do que cortar exatamente onde o país mais precisa?

 

Foi um golpe abaixo da linha de cintura.

 

Se mesmo com os investimentos acima da inflação da última década, o abismo segue imenso, imagine como ficará quando os gastos forem cortados? Parece mais uma joelhada daquelas dos tempos em que o Anderson Silva ainda dava medo.

 

Isso sem contar a discussão sobre as mudanças na política de valorização do salário mínimo, pros da ativa e os pensionistas, as alterações do financiamento do Bolsa Família e, é claro, a própria reforma da previdência social, que vão finalizar exatamente quem mais necessita da mão do Estado.

 

É claro que a inflação alta e a falta de empregos punem os mais pobres, e que equilibrar a economia no centro do ringue é fundamental, mas as primeiras iniciativas do novo governo parecem mais um nocaute pra quem já está no chão.

 

 

Só nos resta esperar que, no próximo round, o governo interino sinalize com uma discussão que envolva a inversão de um sistema que, em todos os momentos desta República, nas crises ou nos momentos de vacas gordas, garante o cinturão aos poderosos de sempre enquanto os mais pobres, como sempre, beijam a lona.