Memória LEOUVE

50 tons de Governo

50 tons de Governo

Tem gente, e não é pouca gente, que vê o mundo como se ele fosse só em duas dimensões, como se não existissem nuances ou 50 tons de cinza, vermelho e azul. Pessoas que só vêem belo e feio, bom e mau, inteligente e néscio. Como se na palheta do artista coubessem apenas as cores primárias.

Então estas pessoas, juntamente com outras que enxergam um pouco adiante, ajudaram a depor, ainda que interinamente, uma presidente e sua equipe. Em seu lugar tomou posse um novo governo, já sob um olhar de desconfiança. Afinal, governos são compostos de políticos e políticos, na visão da maioria, não são bons.

Eis que Temer assumiu prometendo cortar ministéris, mesmo sabendo que este não era o maior ou único mal do país. Mas era preciso acalmar a patuleia. Ou,no jargão, dar circo. Mexeu com a classe artística, logo ela, com amplo acesso a holofotes e microfones. Assim, encurralado por manifestações contra o fim do Ministério da Cultura, precisou voltar atrás.

Esqueceu-se de nomear uma mulher para o ministério. Homem elegante que é este Presidente interino, tentou remendar, desculpou-se, convidou elas, enfim, foi atrás de paliativos. Não deu lá muito certo, mas ok, não era algo capaz de implodir um governo. Afinal a montagem de sua equipe dependia dos partidos que o apoiam e partidos, se sabe, são feitos de caixa dois e políticos. Nada recomendável a um governo que precisa espantar o espectro da corrupção do horizonte.

Eis que agora se tem acesso a um diálogo para lá de comprometedor de um dos homens fortes do novo Governo. Romero Jucá fala em delimitar a operação Lava Jato. É gasolina aditivada no discurso de quem sustenta que Dilma foi vítima de Golpe. Mas, muito mais do que isto, frustra expectativas de quem acreditava que este seria o Governo redentor, o bom, bonito, correto e justo Governo de salvação nacional. É preciso prosseguir com a Lava Jato, doa a quem doer. Este é a justo e raro senso comum de uma Nação.

O problema é que Temer tem pouco tempo e uma tarefa de Hércules. Precisa reativar a economia e para isto é premissa básica recuperar a credibilidade. Como fazê-lo se alguns de seus mais próximos aliados não lhe emprestam esta confiança? Para quem tem pouco tempo e escassez de recursos, começa titubeante o Governo Temer. Mas é cedo pra desacreditá-lo por inteiro. Há mais escalas entre o virtuosismo e a canalhice do que um eleitor mediano possa reconhecer.