Memória LEOUVE

A diferença que alguns zeros fazem

A diferença que alguns zeros fazem

Permitam que nesta sexta-feira eu recorra a reminiscências para esta reflexão diária, São passagens de minha vida que dizem respeito a entender, ou pelo contrário, deixar de entender números e grandezas.

Eu era bem pequeno. Mas, já estava na escola e deveria ter aí uns oito anos. Estávamos no auge da corrida espacial, um destes tantos fronts em que se travou a guerra fria – tanto quanto sei, ela matou bem menos gente do que outras guerrilhas tribais espalhadas por aí, mas deixou todo mundo em pânico por pelo menos uns 20 anos. Pois bem, assistia ao noticiário pela tv sobre mais um lançamento de uma destas naves Apolo e perguntei ao meu pai porque é que o Brasil também não mandava um homem à lua? Didaticamente ele explicou que o Brasil não tinha dinheiro para isto, que nossas prioridades eram outras e que o custo para mandar um foguete ao espaço era astronômico (este é um trocadilho meu, certamente ele não usou esta palavra à época).Foi uma boa conversa, tanto é que lembro dela com carinho até hoje. E pela primeira vez, desde que eu havia entendido a lógica dos números, vi que eles não eram assim tão simples de entender.

Muitos anos depois, já na faculdade de jornalismo o hoje falecido professor Antoninho Gonzalez, que fumava incontáveis cigarros enquanto contava ótimas histórias de sua vida profissional no Correio do Povo e Jornal da Manhã, nos advertiu: “cuidado com os números”. Um zero a mais ou a menos muda tudo. De mil, pra milhão ou bilhão, é um trocadilho inglório, ainda mais em tempos de inflação – que aqueles eram tempos de muita inflação. “Então chequem sempre. Comparem” ensinou o mestre.

Pois os números e as medidas sempre me assombraram. Como assim, o homem sapiens surgiu há cerca de 160 mil anos e temos uma história razoavelmente registrada apenas de uns 3 a 4 mil anos para cá? O que fizemos antes disso tudo? Aliás, dificilmente alguém sabe o nome de seus antepassados além do bisavô. Que dizer de dez séculos ou dez milênios atrás…

E o universo ? um espaço observável com diâmetro de 92 bilhões de anos luz ou 920 sextilhões de km. Pra muitos Porto Alegre é longe demais.

Tudo isto, os amigos já devem imaginar, pra dizer que 200 bilhões de reais é rombo demais pras contas públicas da União, ou não? Uma grandeza difícil de imaginar, ainda mais se comparada ao salário mínimo. Ou vamos falar de um salário médio de dois mil reais para um trabalhador mediano. São oito zeros a mais. Ou então 100 vezes o orçamento anual de Caxias do Sul que é de aproximadamente dois bilhões.

 

Definitivamente é preciso repensar os gastos neste país. Ou nunca mandaremos um foguete para a Lua.