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Afastamento de Dilma divide opiniões entre lideranças e autoridades de Caxias

Afastamento de Dilma divide opiniões entre lideranças e autoridades de Caxias

A presidente Dilma Roussef foi afastada do cargo na manhã desta quinta-feira, dia 12 de maio. Depois de 13 anos, o governo do PT chegou ao final por 55 votos favoráveis a 22 contrários na votação realizada no plenário do Senado Federal 

 

O parecer pela abertura do processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff foi aprovado e com isso a presidente fica afastada por até 180 dias. 

 

A notícia gerou repercussões imediatas em Caxias do Sul. O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Nelson Sbabo, mostra otimismo em relação ao novo governo.

 

"Eu acredito que terá uma repercussão imediata na situação do país. Embora a gente não tenha que aplaudir esse fato porque foi muito triste. Milhares de brasileiros ficaram decepcionados com a confiança depositada numa pessoa para conduzir os destinos do Brasil e chegar a esse ponto. Mas o que esperamos agora é que o novo presidente tenha a condição de colocar a economia em ordem e que o Brasil possa continuar se desenvolvendo", projeta.

 

Nelson Sbabo enfatizou a necessidade do bom relacionamento com o mercado financeiro mundial.

 

"É importante demonstrar confiança aos investidores estrangeiros que participam das nossas empresas. Nós esperamos que todo esse sacrifício que foi imposto às milhares de pessoas que perderam seus empregos, aos incalculáveis prejuízos que as empresas tiveram devido às ações tomadas pelo governo nos últimos anos possa ser revertido. Há necessidade do povo voltar a acreditar nos políticos e que os investidores aportem recursos aqui", considera.

 

Sobre os nomes ventilados para o novo governo, Nelson Sbabo disse que é importante que se acredite neles.

 

"É claro que todos nós temos uma expectativa e estamos torcendo para que dê certo. Porque se não der, o prejuízo vai ser de todos nós e não só de quem os indicou. Vamos torcer e ter esperança que os brasileiros que assumem essa responsabilidade tenham a capacidade de colocar o país em ordem".

 

 

Já o líder da bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Vereadores de Caxias, Rodrigo Beltrão, acredita que a saída da presidente faz parte de uma ação orquestrada e golpista.

 

"O golpe foi anunciado no dia seguinte à vitória da presidenta no segundo turno da eleição de 2014. Nós estamos diante de uma elite reacionária, golpista, que tem seus representantes inclusive aqui em Caxias do Sul. Já pela terceira vez ascendem à presidência da República de maneira indireta. Infelizmente o ato do Senado, da Câmara, com aval do STF e que parte de uma elite golpista do Brasil e de Caxias do Sul também se constitui numa afronta à democracia. Nós temos é que lamentar e entender que o país, do ponto de vista democrático, da sua construção popular, deve estar de luto. rasgamos a Constituição. Invalidando 54 milhões de votos de brasileiros apenas porque uma elite golpista, conservadora, preconceituosa e elitista não consegue ganhar nas urnas e diante de um golpe de estado afasta uma presidenta democraticamente eleita que sequer cometeu um crime.

 

Beltrão faz projeções pessimistas quanto ao governo de Michel Temer.

 

"Infelizmente o Brasil retrocede . Podemos esperar um governo que retoma o receituário neo-liberal, numa visão de Estado mínimo, em que o Estado não tem que ajudar a população mais pobre. Vamos viver uma era de retrocessos. E o mais triste de tudo, com o aval de uma pequena parcela do povo", projeta.

 

Sobre o futuro do PT, o vereador se limitou a dizer que serão momentos de luta e denúncias.

 

"Tendo em vista a omissão e a conivência das instituições brasileira, só nos resta denunciar esse golpe ao mundo. Porque se no passado o golpe era revestido de violência, hoje ele é revestido com ares democráticos, mas com a mesma finalidade golpista de sempre. O governo assume sem legitimidade nenhuma, tendo praticado as mesmas pedaladas fiscais. Nos cabe agora denunciar o golpe e a afronta á democracia no nosso país", finalizou.

 

 

Procurador-geral contesta solução jurídica do impedimento

 

Segundo o procurador-geral do Município de Caxias, Victorio Giordano da Costa, a solução do impeachment para o presidente da República é simplista, exagerada é até injusta.

 

"Está mais fácil derrubar um presidente do que demitir um funcionário público comum. A política é engraçada. Conforme quem vai cair, as pessoas ficam de um lado ou de outro. O pessoal que caiu ontem foi o mesmo que organizou para derrubar o Collor. O processo que derrubou o Collor durou dois dias. Ele não teve direito de defesa. Em dois dias ele foi acusado, demitido e no terceiro dia já tinha um presidente no lugar dele. Então essa intranquilidade da legislação brasileira precisa de uma solução intermediária. A única solução que tem é a cassação? Não tem multa, suspensão", questiona.

 

O procurador sugere alternativas.

 

"Para o bem do Brasil, essa legislação precisa ser modificada. Precisa uma opção se não o país fica instável. Todos têm uma pena alternativa. Retenção, suspensão, aposentadoria compulsória. Para qualquer crime tem penas alternativas. Fica uma pena política. Muda de lado e derrubam. Tem que se criar uma mudança na Constituição. Tem que haver alternativas quando o presidente comete alguma irregularidade. Para o presidente é "pena de morte" direto. Para o funcionário público tem defesa. Esse pessoal que caiu hoje concordou em derrubar o Collor sem direito de defesa. É um mal costume no Brasil de não criar as coisas com segurança, bem redigido, bem esclarecido. Porque a saída de um presidente, seja qual for, é muito ruim. Já caíram dois presidentes. É uma prova de instabilidade ou de irresponsabilidade política", define.

 

Victorio Giordano da Costa alerta para a onda de processos de impeachment que podem surgir diante a da jurisprudência criada com os impedimentos de Collor e Dilma.

 

"O país fica uma republiqueta por cada coisa derrubar um presidente. A jurisprudência está criada. A turma que derrubou o Collor caiu agora. E outra parte segue no governo. Para o presidente só tem uma alternativa, a cassação", reitera.

 

 

 

 

Ouça as entrevistas completas: