Memória LEOUVE

O sujo, o mal-lavado, o roto e o esfarrapado

O sujo, o mal-lavado, o roto e o esfarrapado

A cassação de Eduardo Cunha não anda há meses, barrada pelos jagunços aboletados em seus mandatos de deputado, mas a cabeça do agora ex-senador Delcidio Amaral rolou com apenas um sopro de ameaça do presidente do Senado Renan Calheiros.

 

Não se iludam: todas as máscaras caíram nesses últimos dias no Planalto Central que teima em não cumprir o destino traçado nos belos traços de Niemeyer e Lúcio Costa.

 

A paródia mal-parida do anula desanula de Waldir Maranhão não foi uma salvação para Dilma, mas um recado de Cunha para quem quer derrubá-lo. Afinal, Dilma já está mesmo fora do jogo. Aquele teatro todo foi um recado direto e bem entendido para Michel Temer, e que ninguém se diga depois surpreso com a salvação de Cunha, que já está sendo urdida nos porões do Jaburu.

 

A cabeça ungida de Cunha não sai do corpo parlamentar pelos mesmos interesses que guilhotinaram a de Delcídio. Não é o crime, não é a ética que move um ou outro comportamento, aparentemente antagônicos, mas iguais no que representam.

 

As duas sortes distintas dos nem tão distintos representantes da política nacional servem ao mesmo propósito: tirar do poder um partido e recolocar aqueles que sempre estiveram nos governos, desta vez fantasiados de salvadores de uma pátria ainda sem salvação.

 

Hoje, vamos abrir definitivamente o processo de cassação da presidente, e mesmo antes do julgamento, o caso já tem veredito e um novo governo assume provisório mas com ares permanentes.

 

Não são as pedaladas, não são os decretos, não é a corrupção do petrolão e nem a Lava-jato. A verdade é que já não importam as causas diante da obsessão pelas consequências.

 

É a simulação de um processo legal, com um direito de defesa que ninguém escuta, onde antes mesmo do processo os julgadores já manifestam sem pudor seu veredito, onde a prova já não precisa ser provada e não há convencimento possível.

 

Não há mais segredo, tudo está às claras: estamos derrubando o governo como um voto de repúdio à incompetência da presidente, por causa da inflação, do desemprego, da crise econômica.

 

Se isso vale o impeachment, já não importa mais.

 

E a poucas horas da troca na guarda no governo, não há governo pronto a assumir, não há propostas, não há milagre econômico à vista, apenas parte de um anunciado ministério anticorrupção cheios de corruptos citados na lava-jato.

 

Eu aqui cansei da farsa. E se você me perguntar que país é esse? Eu respondo:

 

É um Brasil onde o sujo julga o mal-lavado, e o roto toma o lugar do esfarrapado.

 

Alguém aí ainda se espanta?