Memória LEOUVE

Um final melancólico

Um final melancólico

A artimanha ridícula através da qual o presidente interino da Câmara Federal anulou a sessão pela qual os deputados haviam permitido a abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma demonstra o grau de desespero dos aliados da presidente. Numa demonstração de maturidade política o senador Renan Calheiros – que normalmente passa longe de ser uma unanimidade no meio político – não acatou a decisão levando o próprio Maranhão a voltar atrás.

Este final de mandato da Presidente Dilma – ela não deve voltar ao Planalto já nesta quinta ou sexta-feira – tem deixado algumas lições e muitas desilusões. A primeira lição é uma lembrança. Os movimentos de esquerda tendem a resistir e a lutar. Foram/são guerrilheiros. Não caem sem luta e a luta hoje se traduz em bloquear estradas, atrapalhando a vida de trabalhadores de todas as classes sociais.

Poderia se dizer ainda das esquerdas, que elas são idealistas. Não neste momento. Hoje a esquerda brasileira virou pragmática. Agarra-se com unhas, dentes, foices e pneus queimados ao poder. Então, mesmo quem confiou num governo que lutaria pela justiça social, por dar oportunidade de ascensão às classes menos favorecidas e criaria empregos, daria moradia aos pobres e saúde de qualidade, acaba por cair em descrédito.

Veja só. O Brasil esteve entregue a um governo que não entendeu as regras do jogo. Um governo titubeante entre seguir sua ideologia ou curvar-se à realidade.

Fazer política não é o mesmo que adotar o “toma lá, dá cá” como regra absoluta; obter lealdade é selar compromissos e não oferecer mesadas; impeachment pode até ser golpe, menos quando a maioria assim o deseja; dizer em campanha que o país é uma potência e que só vai melhorar e, no dia seguinte à eleição, tentar fazer o oposto do prometido.

Enfim, os eleitores, os cidadãos brasileiros que trabalham e pagam impostos, os estudantes brasileiros, que precisam de exemplos a seguir, bem que poderiam ser poupados de tantos vexames. Seria muito bom que o Governo aceitasse o inevitável; que os partidos que o apoiam refletissem acerca de seus erros e fizessem uma oposição responsável. Infelizmente os sinais não são estes. Vão cair atirando. Cada um dá o que tem; cada um colhe o que semeia. O PT que o diga.