Memória LEOUVE

Gol contra e pauta-bomba

Gol contra e pauta-bomba

Bum, burum, bum, bum, burum, bum.

Vocês podem até pensar que eu estou comemorando o majestoso futebol apresentado pelo Grêmio na Libertadores na noite desta quarta-feira, dia 27. Ou mais uma vitória do Caxias no Clássico da Polenta rebaixado á segunda divisão do futebol gaúcho. Só que não.

 

Ou ainda quem sabe eu esteja festejando aqui a volta do frio à Serra Gaúcha…

 

Mas não é nada disso, caríssimos leitores.

 

A onomatopeia (pra quem não sabe, o palavrão que abre a frase é o nome que se dá a uma palavra a partir da reprodução aproximada de um som natural a ela associado… isso, estou falando daqueles bum, burum lá em cima); então: a onomatopeia do espocar de foguetes é o eco da pauta-bomba que explodiu no Planalto Central do Brasil na tarde de ontem.

 

Para quem não sabe, pautas-bomba são aqueles projetos que deputados malvados usam pra provocar os governos a fazerem o que eles querem que os governos façam. Em outras palavras, chantagem mesmo, assim, na dura. Aqueles projetos que até os impávidos dragões da independência da guarda presidencial sabem que vão atolar ainda mais o país chafurdado na crise, mas que interessa aos alcoviteiros de plantão nos salões do Congresso Nacional para alimentar o interminável toma-lá-dá-cá que caracteriza a nossa política tupiniquim.

 

Pois a pauta-bomba da semana é que os nobres ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) conseguiram ressuscitar o sinal verde para aprovar um módico aumento de 41% dos seus salários, com um impacto perto do bilhão de reais aos combalidos cofres públicos. Havia sido vetado por Dilma ano passado. Agora renasce assim, com uma canetada, um cunha, um calheiros e dois risinhos cínicos.

 

É que, depois que a agora quase ex-presidente Dilma está de malas prontas para ser enxotada pelo impeachment, ficou mais fácil negociar… bastou a visita de um nobre ministro do STF aos impolutos presidentes dos parlamentos e líderes partidários e… pimba, gol da Alemanha.

 

Fica bom pra todo mundo. Eu, por aqui, dou um doce pra quem adivinhar o destino de Eduardo Cunha na comissão de ética, e penso que não é mesmo à toa que os muxoxos de alguns delegados da Polícia Federal já aumentem o volume da reclamação-constatação de que a Lava-Jato já não é mais a mesma…

 

Enquanto isso, nós, reles mortais à sombra da indignação seletiva, ficamos ansiosos aguardando a principal decisão do STF esta semana: será que vamos continuar podendo entrar com um prosaico pacote de pipoca na próxima sessão de cinema no shopping perto de casa?

 

E, claro, sigo alimentando a esperança de que o Grêmio, derrotado por argentinos, pela incompetência, pelo cansaço e pela caxumba, nos redima de tanto gol contra esta Nação de botocudos e lave nossa alma lá no início de maio, quando, talvez e inevitavelmente, o temerário Temer já esteja aboletado no gabinete presidencial.