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Caso Americanas: Como ficam os clientes, acionistas e parceiros comerciais

O temor dos clientes das Lojas Americanas é não receber as compras que já foram efetivadas. Mercado considera esta a maior fraude financeira do país

Caso Americanas: Como ficam os clientes, acionistas e parceiros comerciais
Foto: Mateus Resemini / Grupo RSCOM


A gigante varejista brasileira, Lojas Americanas, está passando por um momento de grande turbulência em suas finanças. Na quarta-feira, 11 de janeiro, representantes da empresa revelaram ter encontrado “inconsistências contábeis” na casa dos R$ 20 bilhões. Após, uma análise interna indicou que a “furo” pode ultrapassar os R$ 40 bi, se for solicitado a antecipação de dívidas. A inconsistência foi descoberta nos balanços de 2022 e também de anos anteriores.

O caso já é considerado como a maior fraude financeira de todos os tempos no Brasil. O dolo pode se estender até os parceiros comerciais da marketplace, acionista e aos clientes, que temem não receber suas compras realizadas online. A empresa entrou na tarde desta quinta-feira (19) com pedido de recuperação judicial, acatado pela 4ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro..

Agora, os desdobramentos do caso serão analisados de forma mais profunda, por uma comissão criada pelo Conselho de Administração da Americanas, que deverá prestar contas ao mercado. A gigante varejista terá que apresentar a conclusão da análise e um plano de recuperação em até 60 dias.

 

Clientes temem não receber produtos

Com mais de 1,8 mil lojas espalhadas pelo país e milhares de vendas realizadas online, em sua marketplace, outro fato que contribui para a desconfiança com a empresa é o temor dos clientes de não receber as compras que já foram efetivadas. Outra questão que paira no ar é a falta de segurança em realizar novas compras.

O Procon de Caxias do Sul, até o momento, não registrou nenhuma movimentação atípica de queixas dos clientes da Americanas. Segundo Jair Zauza, coordenador do órgão em Caxias, os clientes devem ficar atentos as questões, mas não há motivos para desesperos. “Ainda não percebemos nenhum problema da empresa que tenha relação com o que está acontecendo”, afirma Zauza.

Contudo, o coordenador faz o alerta para possíveis ocorrências futuras. “A atitude dos clientes com as Americanas deve ser a mesma. Caso os prazos de entrega não sejam cumpridos, o consumidor poderá optar entre aguardar pela entrega ou cancelar o pedido e solicitar o reembolso, inclusive corrigido. O fato da empresa estar em recuperação judicial não altera em nada suas obrigações com as transações de venda já realizadas”.

 

Parceiros do marketplace podem ser obrigados a cumprir com compromissos de vendas

Conforme o advogado Fábio Piccoli, a “questão Americanas” não se resume apenas em encontrar os culpados. “Esse caso é muito amplo. Afeta não só a holding Americanas (formada pelas empresas Americanas S.A., B2W Digital Lux e JSM Global), mas também aqueles que vendem produtos por meio de sua plataforma”, explica o advogado.

O que está tirando o sono dos associados ao marketplace Americanas é a empresa não conseguir sobreviver as perdas financeiras e decretar falência. “Quando há um problema financeiro desse tamanho, os bancos evitam emprestar dinheiro. Também há a tentativa das instituições de recuperar o valor já disponibilizado”, salienta Piccoli.

Esses associados, muitas vezes pequenos negócios, terão que assumir os compromissos de entrega ou reembolso dos produtos. O Código de Defesa do Consumidor considera as vendas realizadas por terceiros pelas plataformas digitais de empresas de varejo como responsabilidade solidária.

“Caso a situação das Americanas seja irreversível, os clientes que compraram produtos pela plataforma terão seus direitos resguardados pela Responsabilidade Solidária. Hoje, caso ocorra alguma questão com a venda, o consumidor pode acionar a justiça contra as Americanas ou contra a empresa e seu associado. Se uma das partes deixar de existir, a outra deverá assumir a questão”, enfatiza o Coordenador do Procon de Caxias do Sul.

 

Impacto no mercado e prejuízo para acionistas

O impacto gerado no mercado financeiro pelos problemas enfrentados pela Americanas fez com que a B3, administrado da bolsa de valores do Brasil, excluísse a empresa do seu rol. O momento é considerado de forte instabilidade pelos especialistas, que tratam as operações da empresa como de alto risco.

Conforme a especialistas em finanças Luciane Werner o mercado vai demorar para se recuperar desse ocorrido. “Infelizmente, esse acontecimento fez com que as pessoas que possuem ações da empresa, apresentem prejuízo na sua carteira de investimentos. A queda foi tão grande que é possível exemplificar, um investidor que possuía R$ 10.000,00 em ações das americanas na semana passada e hoje dia 19/01, consulta seu saldo e possui apenas R$ 1.000,00”, afirma a especialista.

Luciane ainda salienta que as pessoas que possuem fundos de investimentos que são compostos por debêntures (títulos de dívida) da empresa, também foram afetados. “Um exemplo disso, pode ser a conta de reserva imediata do Nubank, onde vale destacar que o valor de reserva de emergência deve ser investido em produtos de alta liquidez, baixa rentabilidade e de baixo risco. O que esse fundo de investimento não correspondia”.

A consultora ainda destaque que quando se trata de investimentos, a melhor dica, é sempre diversificar as aplicações. Ou seja, não investir todo o patrimônio num único tipo de investimento. “Busque conhecer o seu perfil de investidor, se você é mais conservador, moderado ou arrojado. Após isso, busque conhecimento e acompanhe o desempenho dos recursos investidos”, explica.

*Com colaboração de Lilian Donadelli