Opinião

Recessão para combater a inflação

Leonardo Bertelli Piveta
Leonardo Bertelli Piveta


Em ano eleitoral sabemos que os candidatos começam a usar expressões com o único intuito de reforçar o apoio do eleitorado. Não importa muito o lado, importam os votos. O discurso é a chave a qual abre a porta da vitória. No entanto, são as ações efetivas do sujeito que mostram as verdadeiras intenções dele. Por exemplo, qualquer um pode dizer que acabará com a fome no mundo. Mas se nem um prato de comida é dado para um mendigo, será que fará algo mesmo?

Assim tem sido os discursos dos presidentes dos Bancos Centrais mundiais. Um jogo de encaixe de palavras para tentar modelar o mercado. Eles chamam de pouso suave. Pois bem, existe uma melhor definição para essa dissonância entre discurso e realidade.

O dado de inflação de junho nos Estados Unidos da América veio acima das expectativas. O aumento do petróleo e da energia em geral foi o fator que mais influenciou o índice. Nos últimos doze meses a inflação americana ao consumidor foi de 9,1%. Por aqui, o cenário não é diferente. A inflação do mês passado foi de 0,67%. Em doze meses tivemos uma inflação acumulada de 11,89%.

Do pouso suave estamos indo para a recessão. Faz alguns meses que os maiores especialistas já alertavam que por diversos fatores apenas uma recessão controlaria a inflação. Eu entendendo que os argumentos e leitura do momento destes eram mais condizentes com a atual realidade e venho há algum tempo replicando suas opiniões.

Desta forma, chegamos no momento no qual parece que a ficha começa a cair no mercado todo. Já se fala em aumentos mais fortes dos juros americanos, o que poderia causar uma recessão econômica e a falta de energia na Europa teria o mesmo efeito. Teremos uma noção do que acontecerá quando o inverno bater na porta no Velho Continente.

Em outras palavras, os discursos dos presidentes dos Bancos Centrais têm sido mais de viés político do que analítico, porém as consequências nas economias são reais. O leite fica mais caro, o salário não compra mais a mesma quantidade de produtos. Uma recessão parece ser o que nos espera ali na frente. Por incrível que pareça, eu acredito que o Brasil está bem posicionado comparativamente com os demais, isso, claro, se não fizerem um descalabro fiscal em Brasília.