Nesta segunda-feira (24), o papa emérito Bento XVI admitiu ter participado de uma reunião para discutir acusações a um padre denunciado por abuso sexual no ano de 1980. Na época, ele era o arcebispo de Munique, cargo que ocupou como o cardeal Joseph Ratzinger, entre 1977 e 1982. De acordo com as informações, o comunicado foi emitido após o religioso ter afirmado que não estava no encontro. Na mensagem, ele disse que houve “um erro na edição de seu depoimento” anterior.
Ocorre que, na semana passada, o relatório de uma investigação independente afirmou que Bento XVI se omitiu em agir contra integrantes da Igreja acusados em quatro casos de abusos sexuais contra crianças. Em um documento de 82 páginas com informações e respostas enviadas aos investigadores, o papa emérito havia negado ter ciência de qualquer denúncia.
Entretanto, consta no relatório a ata de uma das reuniões, em 15 de janeiro de 1980, com a informação de que o então cardeal estava presente e definiu a acusação ao sacerdote como “pouco crível”. Sendo assim, a nova declaração insiste em que nenhuma decisão sobre a volta do padre a suas atividades pastorais foi tomada na reunião.
Além disso, o secretário particular de Bento XVI, Georg Gänswein, defendeu que o erro “não foi feito com má intenção” e acrescentou que o papa emérito lamenta muito e pede desculpas pelo ocorrido. Por fim, o religioso planeja emitir uma declaração detalhada em uma data posterior, visto que a revisão completa do relatório de 1,9 mil páginas ainda precisa de tempo, segundo informações.
A investigação:
A investigação encomendada pela Arquidiocese de Munique e Freising ao escritório de advocacia alemão Westpfahl Spilker Wastl (WSW), concluiu que foram ao menos 497 vítimas de abuso no âmbito da arquidiocese entre 1945 e 2019. A maioria era de meninos, sendo 60% deles com idades entre 6 e 14 anos. O relatório identificou ainda 235 agressores, incluindo padres, diáconos e funcionários de escolas católicas.
Além disso, o relatório afirma que Bento XVI, atualmente com 94 anos, foi avisado de que as crianças estavam sendo abusadas enquanto era arcebispo, mas que o mesmo não tomou nenhuma medida contra os acusados. Segundo os responsáveis pela investigação, os casos em que o então arcebispo se omitiu envolviam quatro meninos.
Em entrevista, um dos autores do relatório, Martin Pusch, disse: “Em um total de quatro episódios, chegamos à conclusão de que o então arcebispo, o cardeal Ratzinger, pode ser acusado de má conduta em casos de abuso sexual. […] Ele ainda alega que não sabia dos casos, mas, na nossa opinião, é difícil conciliar essa alegação com a documentação que temos”.
Ademais, Pusch acrescentou que a afirmação de Bento XV não é crível, pois, em dois casos, os envolvidos eram padres que cometeram várias agressões comprovadas pela Justiça. Mesmo assim, os dois clérigos permaneceram na Igreja Católica e nada foi feito, disse o advogado.