Bento Gonçalves

Causa animal: a realidade por trás da luta dos voluntários de Bento Gonçalves

Imagem: Günther Schöler
Imagem: Günther Schöler

Infelizmente, nos últimos tempos, os maus-tratos aos animais têm se tornado cada vez mais recorrentes. Em Bento Gonçalves, por exemplo, dois casos chamaram muito a atenção e repercutiram na cidade. O primeiro foi o de dois cachorros encontrados em estado deplorável em uma residência no bairro Ouro Verde, o qual o veterinário não considerou como maus-tratos, gerando uma grande revolta entre a população. Enquanto, no segundo caso, um cachorro foi atirado de um penhasco no bairro Universitário.

Por conta disso, a reportagem do Grupo RSCOM conversou com aqueles que mais entendem do assunto: os voluntários. Estes se mostraram cansados pelo fato de pedir por auxílio e não o receberem, e explicaram sobre a falta de responsabilidade que grande parte da população tem para com os animais.

“No ano de 2020, que foi a pandemia, a gente conversou entre o nosso grupo e sentiu que foram feitas bastantes doações de gatos e cachorros de tamanho pequeno e médio, principalmente para apartamento. O pessoal adotou bastante. Só que agora, no segundo semestre de 2021, a gente está percebendo uma demanda de animais abandonados e sendo doados muito grande, porque o pós-pandemia está acontecendo, as férias estão voltando, a rotina das pessoas está mais livre. Então a gente está notando que o pessoal está se desfazendo de alguns animais. Aí a gente está sempre postando e pedindo por outros adotantes”, disse a presidente da ONG Patas e Focinhos, Aline de Godoy.

“A prefeitura se preocupa muito pouco, tanto que é uma das nossas brigas. A gente precisa de alguém, de algum prefeito, algum vereador, que assuma essa causa. Porque Bento não é só o turismo, que a gente vê que é muito pesado. Mas aqui a gente precisa de alguém que assuma essa causa animal”, desabafou a voluntária da ONG Amigos Pet, Morgana Formalioni.

“Falta muito um respaldo do poder público. Se tivesse uma ajuda, se tivesse alguém que eles destinassem para ir junto, para ir recolher esses casos, seria muito mais fácil. Eu não tenho autoridade nenhuma. Eu posso até responder por um processo de invadir uma casa, sabe?! Não tenho autoridade para chegar numa casa. Eu não sei quem que está lá dentro, não sei quem é o dono do cachorro para entrar lá, ser taxada de louca e ainda sofrer alguma coisa, alguma agressão. […] A gente faz uma coisa que seria dever do poder público fazer, mas a gente faz porque imagina como seria se não tivesse todas essas ONGs que têm aqui em Bento e todas as protetoras independentes que têm”, questionou a idealizadora do Projeto Por Mais Empatia, Letícia Bonassina.

Para averiguar a situação, a reportagem entrou em contato com a prefeitura de Bento Gonçalves. Foram questionados os motivos de não existir um canil na cidade, de não haver um valor direcionado para as voluntárias da causa animal e se algo está sendo feito para mudar essa realidade. Ao que foi respondido, através de nota, dizendo que:

“Com relação aos animais hoje no município é realizado o chamamento público para castração dos animais, são cerca de mil por ano. São castrações em cães e gatos de famílias em vulnerabilidade e uma parte destinada para castração de animais recolhidos pelas ONGs. A Secretaria da Saúde já realiza a revisão do edital de chamamento para aumentar os procedimentos.

A Secretaria do Meio Ambiente realiza o recolhimento de animais em situação de risco e encaminha para os lares temporários. O trabalho é realizado em conjunto com o Conselho do Bem Estar animal (Combea).

O município não pode destinar recursos para as ONGs. É realizado o auxílio com as castrações e recolhimento de doações como ração para auxiliar.

A prefeitura também trabalha a conscientização sobre a posse de animais domésticos, com o Programa Posse Responsável, que atende escolas da rede municipal. As ações tiveram que ser paralisadas devido a pandemia do coronavírus.

Também tramita na Câmara o código de proteção animal, que vai regulamentar estas questões na cidade. O município busca, junto as ONGs, alternativas e soluções para as demandas”.

Por que não existe um canil em Bento Gonçalves?

Na audiência pública ocorrida no dia 31 de agosto deste ano na Câmara Municipal de Bento Gonçalves, foi debatida a possibilidade de ser criado um canil, visto que a cidade, apesar de contar com mais de 120 mil habitantes, até o momento, não possui nenhum. Sobre esse aspecto as voluntárias se mostraram um tanto quanto preocupadas caso o projeto seja de fato realizado.

“Sobre lares: enfim, a gente não é muito a favor porque senão vira muitos animais. Mas tem muitas ONGs e voluntários que são a favor desses lares de passagens. Se for muito bem cuidado e tiver uma boa organização, acho que vale a pena”, disse Morgana.

“A nossa ONG não é a favor de um canil na cidade. A gente depende dos nossos lares temporários para cuidar desses animais, tanto que a gente não paga um lar temporário como existe em outras cidades. A respeito de um canil, eu sei que tem um projeto em andamento para ser feito em algum local aqui da cidade. A nossa ONG não vai participar desse canil, até porque a gente já está com 39 cães em lares temporários que a gente tem que doar e em torno de 35 gatos. Porém o que eu acredito é que se for dado andamento a esse projeto e se for bem organizado, a questão de algum funcionário público, ter bastante recursos, bastante local, vacinas e castração para esses animais, vai ser de grande ajuda para o município”, revelou Aline.

“Nós, protetoras, falamos muito que um canil viraria um depósito. Mas que seja um canil bem cuidado, administrado por essas pessoas, que os projetos das ONGs tenham acesso a entrar e ver como funciona. Porque acontece muito de os canis virarem uma bola de maus-tratos, desviarem todo o dinheiro e os animais estarem lá abandonados, com câncer… Então ter esse lugar, mas ter esse acesso a essas pessoas. Claro que ninguém trabalha de graça, mas eu já faço isso voluntariamente. Todas as voluntárias independentes fazem tudo isso de graça. Tendo a ajuda, isso continuaria sendo feito. Claro que teriam que ter pessoas para trabalhar, mas eu, por exemplo, não cobraria para ir lá e ajudar. Eu já faço isso agora. É pelos animais, entendeu?! Só falta a boa vontade do outro lado”, desabafou Letícia.

Como ajudar:

Por conta da falta de respaldo do Poder Público, as ONGs de Bento Gonçalves dependem exclusivamente de doações de populares para manter a causa animal ativa na cidade. Por isso, as voluntárias pedem por ajuda, que pode ser feita de diversas maneiras.

São elas: doações de ração, cobertas, remédios ou valores em dinheiro; ações em que seja cobrado juntamente com o ingresso 1kg de ração, arrecadação de tampinhas, ajuda com lares temporários e, acima de tudo, auxílio com a divulgação. Além disso, uma das entidades da cidade, a ONG Patas e Focinhos, pode ser auxiliada através da Nota Fiscal Gaúcha, ao que a presidente da instituição exemplificou:

“Quem não é cadastrado, por favor, entre no site da Nota Fiscal Gaúcha e faça seu cadastro. É questão de cinco minutos. Você tem que escolher cinco instituições de cada área, e a da causa animal é apenas a nossa ONG cadastrada. Então, só para vocês terem ideia, no primeiro semestre deste ano, a gente recebeu um valor em torno de R$5 mil, e isso é de grande ajuda para a nossa ONG e para a causa animal. É super simples o cadastro e vai nos ajudar bastante!” destacou Aline.

Além disso, as ONGs Amigos Pet e Patas e Focinhos e o Projeto Por Mais Empatia contam com diversos animais que estão apenas esperando por um lar rodeado de amor e carinho. Se você tiver interesse em realizar uma adoção responsável, entre em contato com as instituições pelas redes sociais @amigospetbg, @ongpatasfocinhos@pormais.empatia.

Por fim, reitera-se que maus-tratos aos animais é crime. Por isso, se você souber de algum caso, não se cale. Denuncie!