Eu odeio “telemarketing”. Do fundo do meu coração. Ele já me fez inutilizar meu telefone fixo. Como? Ele toca, mas eu não atendo. Também interferiu, substancialmente, no meu próprio uso do meu telefone celular. Como? Se não identifico o número, não atendo a chamada. Simples assim. A que ponto chegamos, né?
Faço isso porque tantas vezes atendi e me deparei com gente que não aceitou um simples: “obrigada, não tenho interesse”. Gente que, de tanta insistência, provocou irritação em mim e até impeliu uma criatura tão meiga como eu à discussão com pessoa que eu nem conheço e não tenho a menor razão para xingar.
Mas, óbvio, eu gerencio o meu tempo, até para não ficar o dia inteiro atendendo gente me oferendo coisas que não quero adquirir, até buscando criar necessidades, por processos psicológicos cognitivos, que eu não tenho.
Já fiz os procedimentos para impedir isso junto ao PROCON, tudo absolutamente ineficiente: não funcionam.
Logo, para não ficar o dia me estressando, atendendo chamadas que não quero atender – pode acontecer que até não atenda um cliente em potencial por conta disso -, as posturas acima foram adotadas e pronto, até que minha condição de consumidora encontre um grau de intervenção tão invasiva no meu tempo.
Já se questionou por que isso se tornou tão frequente e invasivo de nosso tempo e de nossa vida? Explico. Sabe quando você vai ao comércio para comprar, rapidinho, uma meia de nylon ou flores e, antes de comprar, eles te perguntam: “você já tem cadastro conosco?”
E se você não tem… aí te fazem um rol de perguntas para preencherem o tal cadastro, absorvendo o seu tempo, quando tudo que você quer é pagar a meia, pegar sua sacolinha e sair ela da loja, achando aquilo uma chatice?
Por vezes, dizem que a intenção é a fidelização; depois de x coisas compradas, você tem direito a algo. Pode até ser, mas a estratégia tem um objetivo mais relevante e não é sem razão.
É que eles armazenam suas informações em Banco de Dados. Esses dados, facilmente são armazenados em meios eletrônicos e estão sujeitos à comercialização, meios pelos quais muitos se apropriam do conhecimento de todos os seus movimentos e preferências, com o suposto objetivo de direcionar propagandas de sua preferência. Você acaba sendo um produto de valor e serve ao direcionamento de marketing, inclusive por algoritmo, nas redes sociais. São capazes de saber mais detalhes de sua vida do que você, seu parceiro, sua família etc.
A LGPD – Lei-Geral de Proteção de Dados tem a pretensão de impor limites a tudo isso. É o que dizem, ao menos. Por ela, a entidade pública ou privada só pode exigir saber de você os dados essencialmente relativos à finalidade de sua relação jurídica com ela, informando o objetivo da coleta. Mais: só pode repassá-los (tratá-los) com a ciência e o conhecimento da pessoa titular dos dados.
Se isso vai funcionar? Pessoalmente, eu não acredito nessas leis de oportunidade, sancionando infrações administrativas e outras com a pretensão de controlar o incontrolável. Nunca funcionou muito bem na Europa, onde o tema vem sendo há anos objeto de tentativas de controles com Diretivas e Resoluções da Comunidade Europeia, Confesso que estou meio São Tomé quanto à LGPD: preciso ver para crer!
Lembra que, há alguns anos, sobreveio uma norma, em reforço ao CDC, que obrigava todo estabelecimento comercial a ter, à disposição do consumidor, uma cópia do referido código? Como adiantou, né? (risos). Eu fico imaginando a seguinte cena: meu marido entrando num estabelecimento comercial e, tendo uma dúvida na relação de consumo, peça a tal cópia obrigatória do CDC, para se inteirar de seus direitos, antes de adquirir qualquer coisa. Talvez só saia de lá no dia seguinte e sem entender nada. Só que ele tem para quem ligar.
Fico também imaginando um atendente dizendo: “Desculpe, Senhor, mas para emitir a nota fiscal, preciso entrar no sistema e cadastrá-lo.” Alguém vai deixar de fornecer todos os seus dados pessoais?
Anote aí: São Tomé. Só vendo funcionando para acreditar!
Que gênio teve essa ideia?