Bento Gonçalves

Delegada de Bento Gonçalves destaca o projeto "Polícia Civil Por Elas"

Imagem: Gunther Scholer
Imagem: Gunther Scholer

Lançado no mês de agosto pela Polícia Civil, o Programa Polícia Civil Por Elas visa o enfrentamento da violência contra a mulher, a prevenção para esse tipo de crime e o empoderamento pessoal e profissional delas. O trabalho se materializa através de atividades como atendimentos individuais e em grupos para mulheres, de homens, de adolescentes no ambiente escolar, seminários regionalizados, pesquisas institucionais e acadêmicas de capacitação de policiais civis para lidar com a temática. Essas medidas possibilitam o acolhimento das vítimas, a desconstrução de padrões de violência com os autores, a atuação de forma preventiva com adolescentes, além de capacitar e oferecer suporte emocional aos policiais que realizam atendimento nas delegacias especializadas.

Com o objetivo de divulgar essa iniciativa, a reportagem do Grupo RSCOM conversou com a titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Bento Gonçalves, Deise Salton Brancher Ruschel, que destacou a relevância do projeto. “Esse projeto é de uma importância enorme. Nós enfatizamos e institucionalizamos a importância da Polícia Civil atuar em um eixo preventivo – isso sem deixar de fazer nenhuma das nossas atividades por essência. Atividades como essa aproximam a polícia da comunidade e fazem a comunidade perceber que a Polícia Civil atua de maneira muito próxima e importante, de modo a contribuir não só para prender o sujeito que praticou a violência, mas também para oportunizar que essas pessoas busquem alternativas e estejam munidas de ferramentas para abandonar o ciclo da violência. É a Polícia Civil colaborando para uma sociedade melhor, não apenas no campo repressivo, mas também na prevenção”, disse.

Uma das iniciativas mais expressivas que integram o programa, é a implantação sequencial de Salas das Margaridas, que são espaços reservados, privativos e acolhedores, onde ocorrem registros de ocorrências policiais, oitivas das vítimas e solicitação de medidas protetivas de urgência, além das demais ações que fazem parte da Lei Maria da Penha. Atualmente, existem 40 dessas salas em todo o Rio Grande do Sul.

De acordo com a Delegada, Bento Gonçalves possui um projeto pioneiro nessa vertente, intitulado “Grupo Reflexivo Despertar”, que está na ativa desde o ano de 2012. Esse programa é um grupo de apoio aos homens. “Nós compreendemos que não apenas as mulheres devem receber acolhimento e assistência nesse cenário da violência doméstica e familiar. Aquele que pratica a violência certamente o faz motivado pelas suas crenças e pela forma como foi criado. Nós vivemos em uma região bastante machista e patriarcal, então esse projeto visa justamente atender homens que, em algum momento, praticaram a violência doméstica e familiar e, neste momento do grupo, não são tratados como acusados, mas sim como indivíduos que se envolveram em uma situação de violência e são chamados justamente para pensar sobre a figura feminina. […] Então esse é um projeto bastante importante aqui da nossa cidade”, revelou.

Infelizmente, não existe uma fórmula mágica para acabar com a violência. Esse problema se concretiza em um ciclo vivenciado por seres humanos que tem um vínculo afetivo. “É diferente de uma ocorrência de roubo em que as pessoas envolvidas normalmente não tem proximidade. Na violência doméstica e familiar, são duas pessoas que iniciaram aquele relacionamento pretendendo ter uma vida de alegrias, e, no decorrer desse relacionamento, cada um passou a agir de uma maneira equivocada quando surgiram os conflitos. A violência surge no momento em que as pessoas não sabem lidar com os conflitos do cotidiano”, destacou a Delegada.

Para amenizar ao máximo esse problema, é muito importante que as mulheres entendam e aceitem que estão, sim, no ciclo da violência. A informação e o acolhimento são ferramentas excepcionais para colocar um ponto final neste mal. Por isso, as rodas de conversa e a convivência entre as vítimas são tão importantes. “No momento em que eu ouço o outro falar, eu tenho uma probabilidade muito grande de me identificar e me reconhecer. […] É importante estarmos juntas para nos olharmos, porque quando olhamos para a outra, muitas vezes nos identificamos, e é aí que a gente se empodera, se reconhece e aceita as tantas ferramentas que a Polícia Civil tem a oferecer”, ressaltou.

Esse projeto é muito do que se antecipar a uma agressão. Com ele as mulheres aprendem a se defender e a lidar com a autoestima. Lembre-se: você não está sozinha! Busque ajuda e, se for vítima de violência, não se cale. Denuncie!