O título deste artigo parece estar em oposição com a coerência e a logicidade, pois os livros sempre foram considerados de fundamental importância dentro de qualquer organização pedagógica.
Lembro que já nos primeiros passos da alfabetização sempre foi dito pelo educador que o importante é ler. Durante mais de quarenta anos dogmatizei esta ordem e não parei mais de ler, apenas obedeci sem contestar.
E hoje desconsidero esta máxima por razões não tão complexas quanto parece. A questão da leitura é colocada como fundamento primário de aprendizado, mas em verdade é forma secundária, assim como os cursos, faculdades, palestras, gurus, mestres, etc. Um novo modelo pedagógico deve se firmar num futuro não muito distante, aonde a reflexão venha ser reconhecida como forma primária construtiva da inteligência, hoje ela está sendo totalmente negligenciada.
A reflexão é algo soberano diante dos demais caminhos propostos pela humanidade, é Divina e está ao alcance de todos. A origem do completo conhecimento está dentro de nós, pois Deus sendo soberanamente justo deixou em igualdade todos os seres com relação à possibilidade de revelar a “Verdade”.
Entretanto a vida nos expõe a constantes desafios e logo ao nascermos somos expostos a “supostas verdades”, inicialmente pela família, depois pela comunidade, escola, livros, sociedade, aos meios de comunicação e as tecnologias e instrumentos que permitam a troca de informações e ideias. Então, aos poucos nos distanciamos desta “Verdade Plena – Deus”, no entanto Ele continua lá.
Talvez seja este o verdadeiro significado das proposições platônicas de “afastar a alma do corpo”, pois o corpo é corruptível e enganador, mas a alma imortal e verdadeira, aonde a leitura é corpórea, pois acessada pelos sentidos e a reflexão é alcançada pelo espirito. Num primeiro momento, esta proposição parece distante de um entendimento ou possibilidade de concretização, no entanto é um estado mental que proporcionará a efetivação desta viabilidade.
Jiddu Krishnamurti, filósofo e escritor indiano, percorreu o mundo realizando discursos que tinham o caráter de revolucionar a origem do conhecimento, seus ensinamentos influenciaram uma multidão de pessoas. Segundo ele, podemos ir longe, se começarmos de muito perto. Em geral começamos pelo mais distante, o “supremo princípio”, “o maior ideal”, e ficamos perdidos em algum sonho vago do pensamento imaginativo. Mas quando partimos de muito perto, do mais perto, que é nós, então o mundo inteiro está aberto – pois nós somos o mundo. Temos de começar pelo que é real, pelo que está a acontecer agora, e o agora é sem tempo.
Essas considerações remetem aos enunciados socráticos onde igualmente dizia que o verdadeiro conhecimento está dentro de cada um. Inspirado na profissão de sua mãe que era parteira, batizou este método de “maiêutica”, onde orientava os indivíduos em direção à sua própria essência espiritual, à lógica racional, extraindo do seu íntimo a verdade que sempre esteve depositada. Lembrando que este filósofo é o mais respeitado dentre os pensadores, mas nada deixou escrito, assim como Nosso Senhor Jesus Cristo o maior de todos os homens que pisou neste plano, certamente foi esta a razão de seu enunciado “o Reino de Deus está dentro de vós”.
Compreendamos que a construção do conhecimento pela simples leitura é apenas repetição do que alguém refletiu e a continuação desta prática causara estagnação da evolução humana, pois nada de novo irá se criar. São nestes momentos que surge à força da natureza que, por vezes, traz catástrofes e personalidades provocadoras para balançar com o estacionamento das ideias.
A leitura tem significação passageira, podendo indicar apenas memorização. Do contrário a observação e análise cuidadosa irá fixar o conhecimento. Veja bem, se entregarmos nas mãos de uma criança dois objetos, como por exemplo, uma pedra e um diamante ela poderá aprender a nominá-los, mas se não ensinarmos, além disso, irá dar o mesmo valor patrimonial as duas.
Contudo, o Mestre Maior jamais deixou de considerar as Escrituras Sagradas como de fundamental importância para humanidade. O livro representa uma mão e a reflexão à outra. E, para que ocorra o equilíbrio no aprendizado, é necessário o entrelaçamento destes métodos.
Somos nosso maior obstáculo e a transformação é a porta de ingresso da Providência Divina, pois não é a elevação a maior dificuldade, mas a compreensão de quem somos e o processo de desconstituir os alicerces criados por nossas viciações e dogmas pedagógicos ultrapassados.
Esta é a finalidade destas considerações, ou seja, indicar uma nova visão educacional, valorizando o Divino que está dentro de nós e que a Palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo torne-se cada vez mais o alimento espiritual da sociedade, fonte de fé, esperança e amor ao próximo. Portanto antes de escolher um livro faça uma boa reflexão.
Escrito por Mauro Falcão, em 15.07.2021, para o Portal Leouve e Tábuas da Verdade.