Opinião

Não tem salvação

Não tem salvação

Pessoalmente, eu não ouvi, mas li, no Site da CNN, que um padre paraibano, chamado João Paulo, teria encontrado o Papa Francisco, em Roma, onde o sacerdote brasileiro estuda Teologia, e dele teria ouvido uma expressão, em tom de brincadeira, que o Brasil não tem salvação, porque, aqui, “é muita cachaça e pouca oração”.

O Papa Francisco é um fanfarrão, descontraído e carismático (isso não significa que eu, pessoalmente, concorde com tudo que ele diz e faz, uma delas, por exemplo, mesmo eu não sendo Católica, o fato de ele não ter feito um único movimento, como Líder da referida Igreja, para que o aborto não fosse aprovado no seu próprio país de origem, a Argentina).

Mas lembro, logo que escolhido, que essa descontração sobressaía de sua personalidade alegre, acolhedora, inclusiva. Quando esteve no Brasil, aliás, em 2013, no Santuário de Aparecida do Norte, ao ver um bispo bem idoso conhecido seu, o Papa Francisco quebrou o protocolo dizendo: “Como estou feliz em te ver! Pensei que você estava morto”. Lembram disso?

E torcedor ferrenho do San Lorenzo, da Argentina, Chiquinho, na audiência com o Padre João Paulo, no encontro recém realizado no Vaticano e registrado pelo padre Carlos Henrique, também brasileiro, de Divinópolis-MG, afirmando a superioridade futebolística de seu país, quando disse a este: Eu não tenho culpa disso, eu sou argentino e no futebol nós somos muito melhores do que vocês.

Mas a pretexto de dizer muitas bobagens ou fazer algumas piadas, por vezes, acaba-se dizendo algumas verdades: afinal de contas, o Brasil tem salvação? Se não tem, isso se dá porque, em terras brasileiras, é muita cachaça para pouca oração?

Vou me atrever, em apertada síntese, em sede de uma percepção pessoal responder aos questionamentos que eu mesma formulei: a meu ver, o Brasil não tem salvação, ao menos não para que eu a conheça, nessa minha atual existência. Em suma: se o Brasil tiver salvação, não será para a minha geração ver e viver. Mas não creio que essa perspectiva se dê em razão de muito consumo de cachaça e pouca oração.

É verdade que a cachaça é uma bebida tipicamente brasileira e que os brasileiros a consomem muito; entretanto, engana-se quem acha que ela só é consumida por aqui. Em verdade, é preciso que se esclareça que a cachaça é a terceira bebida destilada mais consumida no mundo.  Aliás, são 60 os países que consomem a popular “pinga”. Dentre os principais destinos da cachaça, podemos citar a Alemanha, Portugal, os Estados Unidos e a França.

Por sinal, a Alemanha é o país que mais importa cachaça brasileira; é o país consome quase um terço da cachaça exportada pelo Brasil, e nem por isso deixou de se salvar. Destroçada na Segunda Guerra, reconstruiu-se e é hoje uma potencia mundial, com uma economia bastante sólida.

Por outro lado, o Brasil é um país de muita oração e tem um povo pacífico e de muita fé. Embora o Estado se afirme laico, desde o Preâmbulo de sua Constituição, fala em Deus. O Cristianismo predomina, mas todos os credos e confissões de fé são bem-vindas e constitucionalmente asseguradas pela liberdade religiosa. Não nos falta espiritualidade.

Se é assim, por que o Brasil, de verdade, não tem salvação?

Posso estar completamente errada, concedo, mas o país não tem salvação a curto prazo, não pelo consumo de pinga ou pela falta de oração, mas por ser um país de pouca seriedade e compromisso, tantos das Instância de Poder, como pelo baixo sentido de humanidade que elas, e as pessoas em geral, que as pessoas têm.

Falta Ética e sentido de coexistência por toda parte. Seja na Política (onde o que vemos são, de regra, as pessoas se servirem do Estado, em vez de servirem ao Estado, sem qualquer compromisso com o bem-comum), seja nas reações intersubjetivas (relações privadas), impera um individualismo egoísta, onde impera a máxima do cada um por si e Deus por todos. Não há oração que resolva.

Na Justiça, bem, o que ela é? A Teoria que eu ensino? Não. Infelizmente, ela tem sido superficial e, em cada recanto, ela assume as feições que o Poder quer que ela tenha, pois tudo pode ser justificado legalmente. É dizer, há fundamento para qualquer decisão que se queira justificar. Aliás, há até soluções “flex”, aquelas que servem e se adaptam a qualquer caso. É isso que vemos, em que pese o esforço e o trabalhos árduo de muitos operadores do Direito.

Impunidade, desigualdades e oportunismos são mais perniciosos à salvação do país. Então, acho que o Chiquinho mandou bem na assertiva, mas erro nos motivos! E vocês?