Caxias do Sul

Parceria entre IFRS e MP vai qualificar espaço de trabalho de recicladores de Caxias do Sul

Parceria entre IFRS e MP vai qualificar espaço de trabalho de recicladores de Caxias do Sul

Lixo, reciclagem e conscientização. Em Caxias do Sul, conforme a Codeca, empresa responsável pela coleta, os moradores produzem cerca de 450 toneladas diárias de lixo doméstico.

Com a crise causada pela pandemia, o número de catadores de lixo nas ruas aumentou. E as dificuldades pelas quais a Codeca tem passado – entre elas a falta de caminhões para coleta – impactam no destino do resíduo.

No município, atualmente existem 12 associações de reciclagem e muitas famílias retiram sua renda deste setor. Cientes disso, o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e o Ministério Público (MP) fecharam uma parceria que transforma valores arrecadados de multas trabalhistas em ações de extensão para o Projeto Reciclando Histórias.

Neste primeiro momento, duas associações serão contempladas, a Santa Rita que fica localizada no bairro Planalto e a Girassol, em Ana Rech.

A primeira empresa integrante do projeto direcionou o valor total de R$300 mil em multas para as ações. Conforme a pró- reitora de extensão da rede IFRS, Daiane Toigo, diretora do projeto, deste valor, R$ 200 mil serão para benfeitorias e R$100 mil para dois equipamentos para o instituto, como uma máquina CNC e uma impressora 3D, como forma de contrapartida.

As máquinas devem produzir equipamentos de segurança que podem ser direcionadas tanto as associações como aos alunos.

“Nossa primeira ideia era fazer treinamentos e cursos na área de segurança do trabalho. Que é o que podíamos oferecer. Como é que vamos dar um curso de segurança no trabalho se o teto pode cair? As primeiras duas associações que pegamos, chove dentro. Molha o lixo, tu vai ensinar procedimentos, quando a pessoa não tem o básico de condições de trabalho?”, fala Daiane.

O IFRS junto com a equipe de engenharia desenvolveu um projeto conforme as principais necessidades apontadas. Com o valor em recursos um tanto quanto baixo – pois o projeto ideal como a diretora fala necessitaria de mais apoiadores – foi então direcionado para dar início em melhorias emergenciais.

A Santa Rita, local onde onde os recicladores trabalham há aproximadamente 20 anos, é fruto de posse, mas com apoio de um escritório de advocacia voluntário, as documentações estão em andamento para regularizar o terreno. O espaço será um dos que terá mais benfeitorias por ser próprio.

A família de Eliana Paim Borges que começou coletando lixo na rua, decidiu iniciar a associação. As paredes foram construídas por eles, sem auxílio de engenheiros e arquitetos. Hoje, 18 famílias cooperam e tiram sua renda do trabalho no local.

Para Eliana, que é a responsável da Associação Santa Rita, um dos maiores problemas é a falta de piso “Quando chove, vira barro, fica sujo, molha. É o nosso espaço né”, conta.

Primeiramente será feito reformas em todo o telhado e reforço estrutural do prédio.

Já a Associação Girassol, aluga um espaço na região de Ana Rech e aguarda agora por conseguir uma nova propriedade conforme solicitado por Tatiane Ribeiro, presidente da recicladora, junto à Secretaria do município.

Dos investimentos do projeto que serão direcionados para a Girassol, estão dois contâiners, um para área de refeições e outro para banheiros e vestiários. São 22 funcionários que compartilham os mesmos espaços. Tatiane fala sobre como as mulheres fazem para se trocar no momento.

“As gurias se trocam embaixo da esteira, vão na cozinha se trocar ou então se trocam uma na frente da outra na pressa. Então para gente vai ficar maravilhoso né?”, diz.

Tatiane também é presidente da Associação Catador Legal, iniciativa criada ainda na época em que o atual prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico comandava a Codeca. Ela faz um apelo ao gestor, para que lembre com carinho desses profissionais.

“Durante a pandemia a gente se virou com ajudas voluntárias e como a gente podia. A gente acaba ficando sem material, porque a Codeca não saiu para fazer a coleta seletiva, mas a coleta orgânica ela se empenha em fazer”, afirma.

Conforme a presidente, isso ocorre, pois houve um aumento de catadores nas ruas que fazem esse trabalho de coleta do material reciclável.

“Para gente seria muito importante se o nosso prefeito, Sr. Adiló, que é o pai do programa Catador Legal, tivesse um pouco mais de visão, de responsabilidade com a Codeca, com a ajuda dos caminhões. Eu sei que as vezes é difícil investir em dinheiro, uma contribuição, mas que ele tivesse um pouco mais esse olhar. Porque ele olhando para Codeca ele olharia para os funcionários e para gente das associações”, conclui.

Este é um projeto-piloto, com bons resultados, que deve ser ampliados as demais cooperativas da cidade.

Denúncia de trabalho escravo

Conforme Tatiane, há alguns meses a associação foi denunciada por trabalho escravo e péssimas condições de trabalho. Oficiais de justiça estiveram no local conversando com a presidente que forneceu as documentações e afirmou as dificuldades aos oficiais.

“É realmente isso, a gente vive em um trabalho escravo, árduo que não conseguíamos mexer no material que vinha e as condições de trabalho são sim péssimas”, diz.

A falta de EPI’s é o fator principal relatado, “Eles usam o que serve. As roupas que doam”, fala Tatiane.

Apoio

As empresas interessadas em participar do Projeto “Reciclando Histórias” poderão entrar em contato pelo e-mail [email protected] ou diretamente com o Ministério Público do Trabalho de Caxias do Sul.

(Fotos: Isa Severo/Grupo RSCOM)