Opinião

Hérnia de disco: saiba identificar quais os sinais que seu Pet está te dando

Hérnia de disco: saiba identificar quais os sinais que seu Pet está te dando

Hérnia de disco, ou doença do disco intervertebral, é a afecção medular mais comum em cães, sendo responsável por 2,3 a 3,7% dos atendimentos realizados em clínicas veterinárias. Em felinos, essa doença é bem menos comum e costuma ocorrer na região lombossacra.

Mas afinal o que é um disco intervertebral?

Como o nome sugere ele existe entre as vértebras da coluna logo abaixo do canal medular, onde se localiza a medula espinhal (tecido nervoso responsável por conduzir impulsos nervosos aos membros). É composto por fibras colágenas circunferenciais externas (anel fibroso) e um núcleo gelatinoso mais interno (núcleo pulposo).

Atualmente se conhece cinco tipos de hérnia de disco: extrusão do disco intervertebral, protrusão do disco intervertebral, extrusão aguda não compressiva de núcleo pulposo, extrusão do núcleo pulposo hidratado e extrusão intradural/Intramedular do disco intervertebral.

Os tipos de hérnia de disco mais estudados são a extrusão do disco intervertebral e a protrusão do disco intervertebral, sendo que os demais tipos foram descobertos recentemente através da popularização do uso da ressonância magnética. Os animais afetados costumam ter idade entre 3 e 6 anos, mas a doença pode ocorrer em animais mais velhos.

Os sinais clínicos dependem da neurolocalização da lesão, ou seja, qual a parte da coluna afetada. E variam desde dor até paralização dos membros. Caso o animal apresente lesão em cervical, terá dor nessa região do corpo, que pode se manifestar com relutância em mover o pescoço e andar com a cabeça baixa, por exemplo.

  • Animais com lesão em cervical tendem a apresentar ataxia proprioceptiva nos quatro membros (andar de bêbado com membros se arrastando).
  • Já animais com lesão toracolombar apresentam dor na coluna entre a transição das costelas e primeiras vertebras lombares, podendo andar com coluna arqueada (cifose). Geralmente esses animais apresentam alterações exclusivamente em membros pélvicos (ataxia e “fraqueza”).

Dessa maneira, o médico veterinário realiza exame neurológico, dando especial atenção à avaliação da marcha e reflexos medulares, já que os mesmos são extremamente importantes na localização da lesão e essências na escolha da região a ser submetida ao exame de imagem, já que é inviável realizar exame de toda coluna (pelo custo do exame e tempo de aquisição das imagens).

O diagnóstico dos diversos tipos de doença do disco intervertebral se baseia nos sinais clínicos e exames de imagem. A escolha entre tratamento clínico ou cirúrgico depende de uma série de fatores, entre eles: grau de severidade dos sinais clínicos, tipo de hérnia e histórico do paciente.

O tratamento clínico ou conservador consiste em repouso absoluto em caixa de transporte associado a medicações anti-inflamatórias e para dor, assim como fisioterapia e acupuntura.

A incapacidade de sustentar o próprio peso com os membros e caminhar geralmente apontam necessidade de cirurgia, assim como persistência da dor após instituição de repouso e utilização de anti-inflamatórios e analgésicos. A fisioterapia e acupuntura nesse caso costumam ser realizadas no período pós-operatório e são grandes aliadas na recuperação do paciente.

Cães que estão paraplégicos podem apresentar incontinência urinária. Essa situação (de paraplegia e retenção urinária) exige atendimento veterinário imediato, por se tratar de emergência, visto que animais que perdem a “dor profunda” tem menores chances de voltar a caminhar do que animais com essa sensibilidade preservada. Além disso, o manejo incorreto da bexiga pode deixar sequelas como incontinência urinária mesmo que o paciente volte a caminhar.

Outras doenças podem causar sinais semelhantes. Por isso, indica-se como exame de triagem, radiografias simples sob sedação. Animais com indicação de cirurgia precisam passar por exame que permita a exata localização da lesão e possibilitem planejamento cirúrgico. Nesses casos indica-se mielografia (radiografia contrastada), tomografia computadorizada ou ressonância magnética. Todos esses exames exigem anestesia geral e possuem limitações inerentes a cada técnica, sendo a ressonância magnética considerada “padrão ouro”.

Você está aguardando atendimento e não sabe o que fazer? Institua repouso absoluto em caixa de transporte, que é, nada mais nada menos, que a parte mais importante do tratamento clínico para hérnia de disco. O repouso também é importante e indicado em casos mais graves da doença, enquanto se aguarda a cirurgia, pois ajuda a impedir a progressão dos sinais.

Como o repouso deve ser feito? O animal deve ficar em uma caixa de transporte de material firme que permita que fique em estação nos quatro membros e consiga se acomodar e virar de lado para descansar e trocar de posição. O recomendado é que o paciente fique na gaiola de transporte na maior parte do tempo, sendo permitido que saia dela apenas 3 vezes ao dia para urinar e defecar, ainda assim com guia e coleira peitoral (para impedir que se movimente demais durante esses períodos).

Por que ele é importante? De forma simplificada, o repouso impede que mais material do disco intervertebral adentre o canal medular, auxiliando no processo de cicatrização. Claro que, para amenizar o edema medular e a dor que o animal sente, na maioria das vezes utiliza-se anti-inflamatórios e analgésicos associados.

Essa matéria foi escrita para tutores e está repleta de generalizações e simplificações. Por isso, caso seu animal esteja apresentando esses sinais procure um médico veterinário com atendimento especializado em neurologia veterinária, ele saberá qual melhor tratamento para o seu amigo!

Texto escrito pela veterinária Rafaela Scheer Bing Rieth

Formação: Graduação em medicina veterinária pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, 2014); Realizou estágio no setor de neurologia e neurocirurgia veterinária da Ohio State University (OSU, EUA, 2014); Realizou estágio no serviço de neurologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, 2016); Residência em cirurgia de pequenos animais (2015-2017- UFRGS). Durante esse período ajudou a fundar o grupo de estudos em neurologia veterinária do Hospital de Clínicas Veterinárias da UFRGS; Mestre em Ciências Veterinárias (UFRGS, 2019) com ênfase em neurologia veterinária; Profissional autônoma: realiza atendimento clínico e cirúrgico volante em diversas clínicas e hospitais veterinários; Sócia da Associação Brasileira de Neurologia Veterinária (ABNV).