Comportamento

"Nunca imaginei que o amor da minha vida seria gerado por mim", diz mãe de menino com nanismo

Mario Netto viralizou na internet, arrancando sorrisos e espalhando amor

Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

Aos 23 anos, no dia 23 de setembro de 2015, Vanizia de Castro Alves se tornou mãe. Casada há um ano, um de seus maiores sonhos era ter um filho, então imagina só a alegria ao descobrir que esperava por um menininho.

E foi assim que Mario de Castro Alves Netto, conhecido apenas como Netto, veio ao mundo. Cheio de vida, amor e alegria de sobra para arrancar sorrisos de todos a sua volta.

Hoje, com apenas 5 anos, Netto tem mais de 80 mil seguidores no Instagram e 410 mil no TikTok, e conquista o coração de todos na internet e fora dela diariamente. Ao lado da mãe, ele aparece em vídeos cantando, dançando e fazendo as trends mais engraçadas. E foi assim que os moradores de Eldorado do Sul atingiram todo o Brasil com seus vídeos, espalhando amor e sorrisos.

Vanny, como prefere ser chamada, conta como é ser mãe de uma criança com nanismo, desde o momento da descoberta, as dificuldades, preconceitos e é claro, as alegrias.

“A minha gestação foi maravilhosa, muito tranquila mesmo. Fiz todo o acompanhamento obstétrico, ecografias todos os meses, todos os exames tinham bons resultados”, comenta. “Porém, quando cheguei nas trinta semanas, pedi uma ecografia para ouvir o coraçãozinho do bebê e no laboratório, a médica começou a perguntar coisas sobre a estatura da nossa família, se tínhamos histórico de síndromes, e isso começou a me preocupar”.

Foi nesse momento que os pais ouviram pela primeira vez que poderia ter algo de diferente com o seu filho. Segundo a médica, o percentual dos ossos do bebê não estava dentro do normal. Foi ai, que começou a saga para descobrir o que essa informação significava. Com os resultados dos exames, a obstetra chegou a conclusão de que havia a possibilidade da criança ter algum tipo de displasia óssea.

“Bom, primeiramente eu fiquei apavorada, né? Como assim displasia óssea? Se até então estava tudo correndo bem? E aí nós fomos encaminhados para um especialista. Chegando nesse especialista, ele fez uma nova ecografia e constatou que pelo dedão do pé do meu filho, talvez ele poderia ter síndrome de Down. Mas não era nada confirmado”, relata.

Esse médico recomendou que o casal procurasse um segundo profissional, um especialista em ossos, para obterem um diagnóstico melhor. Chegando no especialista, eles ouviram “seu filho pode ter uma displasia esquelética, um tipo de displasia óssea”. Ao procurar mais sobre o assunto, Vanny descobriu o pior, que as crianças nascidas com displasia esquelética raramente sobreviviam devido as deformações nos ossos. E isso a impulsionou a procurar mais opiniões, de outros profissionais.

O terceiro não melhorou a situação, falando que Mario podia ter uma displasia tanatofórica, que é uma displasia onde os ossos comprimem os órgãos e a criança não sobrevive mais do que algumas semanas.

“Naquele dia perdi meu chão”, conta. “O meu mundo, ele simplesmente desabou. Meu sonho de ser mãe e tudo o mais, estava praticamente indo por água abaixo, porque eu, talvez, não quisesse mais ter filhos depois daquilo, né?”, complementa.

Com muita fé e perseverança, os pais procuraram mais um especialista, que fez todos os tipos de exames possíveis e constatou que o bebê teria sim uma displasia esquelética, mas que seria uma comum, no máximo uma acondroplasia ou hipocondroplasia. A acondroplasia, responsável pelo tipo mais comum de nanismo.

“Ele nos explicou que ele teria membros superiores e inferiores mais curtos, mas seria uma criança lúcida, uma criança normal, só que pequena. Naquele momento todo o sonho voltou, sabe? Aquela era uma realização que estava acontecendo ali naquele momento que ele disse que sim, que o nosso filho iria sobreviver”, relata.

O sonho de ser mãe se tornou real para Vanny no dia em que Mario nasceu, com 3.040kg e 44 cm. “Olhando pra ele, nada percebíamos, ele era perfeito, lindo de mais, meu Deus que bebê perfeito”, recorda emocionada.

Quando Mario completou três meses, para o alívio da família, veio a confirmação de que seu caso era um caso de nanismo e que ele viveria sim uma vida normal, feliz e saudável. E desde então, o pequeno virou o melhor amigo, companheiro e filho que Vanny poderia pedir a Deus.

“Eu nunca imaginei que o amor da minha vida seria gerado por mim. E ele ser diferente, ser uma criança especial, pra mim é a maior dadiva que Deus poderia me dar. Ele é um presente, ele mudou a minha vida, me fez ver a vida de forma diferente, enxergar as coisas boas. Ele poderia não estar aqui hoje comigo, segundo os médicos ele não tinha expectativa de vida, mas hoje ele está aqui compartilhando toda essa alegria com as pessoas, sabe?”, complementa.

Preconceito

Mas é claro que nem tudo são rosas. Segundo a mãe, o preconceito com pessoas com nanismo ainda existe e ele é perceptível em todos os lugares, seja online ou na rua. ‘Como assim você tem um filho anão?’, ‘Mas sendo tão alta assim, isso é possível?’, ‘Foi na gestação que deu algo errado?’, ‘Mas ele é normalzinho né?’, ‘Quanta elasticidade, já pode ir pro circo’, ‘Que legal, ele será sempre um bebe!’, ‘Vai ser o mascote da galera!’, ‘Mas ele é tão enfezado’, ‘Tu já pensou que pode ser castigo?’ são apenas algumas das frases que a mãe já leu e ouviu desde o nascimento do filho.

Segundo Vanny, além dos comentários maldosos, feitos principalmente na internet, ela sempre percebeu muito os olhares, a curiosidade e os sussurros dizendo ‘o que ele tem?’. “São poucas pessoas que tem contato com uma criança com nanismo e isso eu escuto muito, porque veem o Netto e falam, ‘eu nunca vi uma criança anão’, sabe? Então, poucas pessoas têm contato. Quando as pessoas olhavam ele, ficavam, ‘meu Deus, o que que ele tem?'”, relata.

Mas para a mãe, as situações sempre foram tiradas de letra, tanto por ela, quanto pelo filho, que desde cedo aprendeu a ser grato e lidar com tudo com bom humor, da melhor forma possível, sem se deixar ferir pela maldade do mundo.

Sucesso na internet

Vanny conta que sempre gostou muito das redes sociais e que, durante a pandemia, descobriu o TikTok e resolveu começar a produzir vídeos na plataforma. Aos poucos, enquanto gravava vídeos sozinha, percebeu o interesse do filho em participar.

“Ele começou a pegar meu celular, a olhar os vídeos, tentar imitar. E aí eu vi que ele também gostava disso e criei a rede dele, um Instagram só pra ele e começamos a dividir a conta do TikTok”, conta.

A mãe explica que nunca produziu os vídeos com o menino com o objetivo de viralizar, mas sim por ver que ele realmente amava gravá-los. Até que um dia, ao gravar a música tema do filme O Rei Leão, e o vídeo se espalhou por toda a internet, da noite pro dia.

Ela relata como recebe mensagens diariamente cheias de amor e muito carinho, agradecendo pelos vídeos, contando como os dois conseguiram levar alegria para tantas pessoas, ajudar tantas pessoas que só precisavam de um sorriso. E que isso faz tudo valer a pena.

“E é isso, na verdade, sou grata, sou uma mãe extremamente grata, o Netto ele é a minha vida, ele é tudo pra mim, tudo que ele faz, a gente compartilha um com o outro, tudo que eu faço eu compartilho com ele e nós somos melhores amigos”, completa.