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Dados da Saúde mostram aplicação de 1,2 mil doses vencidas da AstraZeneca em 23 estados

Foto: REUTERS/Dado Ruvic
Foto: REUTERS/Dado Ruvic

Até 160 cidades em 23 estados aplicaram vacinas vencidas contra a Covid-19 na população, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde. Os microdados de vacinação compilados pela pasta apontam que 1.254 pessoas foram inoculadas com doses de lotes do imunizante da Oxford/AstraZeneca cuja data de expiração já tinha passado.

Para chegar a informação o núcleo de jornalismo de dados do jornal Metrópoles cruzou as informações oficiais sobre vacinas aplicadas com os registros de envios de imunizantes para as unidades da federação, onde constam a data de vencimento para cada lote.

O problema envolve as doses de três lotes de vacinas produzidas pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford fabricadas na Índia e importadas prontas pelo Brasil, os lotes 4120Z001, 4120Z004 e 4120Z005. São grupos de imunizantes cuja data de validade, de seis meses, já expirou.

Veja as cidades que aplicaram a vacina vencida.

A validade

Segundo a bula da vacina no site da Anvisa, a validade do imunizante é de seis meses a partir da data de fabricação, e o produto não deve ser usado após o prazo previsto. “Não use medicamento com o prazo de validade vencido. Guarde-o em sua embalagem original”, diz o documento oficial.

De acordo com o registro no Ministério da Saúde, o lote 4120z001 foi autorizado para ser distribuído em 24 de fevereiro e vencia em 29 de março. A maior parte dos casos de aplicação de vacinas vencidas mapeados pela reportagem se refere a esse lote. Foram 869 casos identificados em cinco estados. Já os lotes 4120Z004 – com 108 casos em cinco estados – e 4120Z005 – 277 casos em 17 Unidades da Federação – foram autorizados em 22 de janeiro e venceram em 13 e 14 de abril, respectivamente.

O que pode acontecer

De acordo com a epidemiologista Carla Domingues, o problema da aplicação de vacinas vencidas é a possível perda de eficácia do princípio ativo. “Em princípio, um dia, dois dias, uma semana, não vai fazer diferença. Mas isso é teoricamente, e essa aplicação, se houve, não deixa de ser erro de procedimento, que não deve se repetir”, afirma ela.

Domingues afirmou ainda que, como no caso em que grávidas e crianças foram vacinados por engano contra a Covid-19, o indicado é que as autoridades acompanhem a saúde das pessoas durante algum tempo. “Por segurança. Em princípio, não há riscos à saúde, mas a chance de alguma perda de eficácia.”

Questionado sobre possíveis consequências de vacinas vencidas, a Fiocruz respondeu que podem ocorrer “eventos adversos, incluindo a inefetividade terapêutica”.

A Secretaria de Saúde do Maranhão apontou que, “nos estudos já realizados, os riscos da administração da vacina com prazo de validade vencido são a ocorrência de eventos considerados leves como dor e edema no local da aplicação, além da redução na eficácia da vacina”.

Fonte: Metrópoles