Caxias do Sul

Discurso de vereador sobre professores municipais gera polêmica em Caxias do Sul

CAXIAS DO SUL
(Foto: Divulgação/Câmara de Caxias do Sul)

Dois vereadores da Câmara de Caxias do Sul estão envolvidos em uma polêmica sobre professores municipais após comentários feitos durante a sessão ordinária do dia 1º de abril. Uma nota foi divulgada pelo Sindicato dos Servidores Municipais de Caxias do Sul (Sindiserv). O conteúdo compartilhado no site do Sindicato nesta segunda-feira (5) trata sobre as falas dos vereadores Maurício Marcon (Novo) e Adriano Bressan (PTB), nas quais referem que os professores receberiam salário sem trabalhar.

Abaixo um trecho da nota divulgada pelo Sindicato:

” Já não bastasse ter que lidar com o uso de tecnologias e recursos próprios como celular, Internet, é necessário preencher planilhas de registro de aulas, busca ativa de estudantes, planilhas de teletrabalho, preparar materiais para estudos monitorados, sem sequer conhecer a realidade do educando, os professores agora, precisam enfrentar o desconhecimento por parte do legislador que ocupa de forma desqualificada, o cargo de presidente da CECTICDL – Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação, Cultura, Desporto e Lazer”, diz a nota.

O texto ainda relata que “o vereador desconhece que o retorno presencial movimenta cerca de 140 mil moradores de Caxias do Sul diariamente e talvez não saiba que o índice de ocupação nos hospitais está acima do suportável, e que esta exposição quando apenas 2,5% da população recebeu as duas doses da vacina é sustentar o caos.”

Conforme os dados da taquigrafia, enviados pela Câmara Municipal de Vereadores do município, Adriano Bressan (PTB) que também é presidente da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação, Cultura, Desporto e Lazer durante a sessão comentou sobre o assunto do retorno as aulas presenciais. Confira o trecho:

“Então que os vereadores aqui, todos, vamos esquecer esse negócio de só vamos voltar depois da vacina. Não senhor, pode voltar antes sim, já foi comprovado que menos de 3% teve afastamento e quem não puder, que está naquele grupo de risco, que fique em casa, não tem problema. Mas os que podem tem que voltar a trabalhar, estão sendo pagos para trabalhar. Tem que voltar o presencial.”

Confira a fala na íntegra:

Peço a palavra, senhor presidente. […] Desculpa. Eu não estava acostumado por causa da… Presidente, eu até fico feliz quando vejo que um vereador está pedindo um pedido de informações sobre a educação, onde a gente tanto luta – né, vereador Marcon? – para que a escola volte. Só que eu vejo assim, fala de EPIs nas escolas infantil e tudo mais. Eu, para mim, isso aí é a mesma coisa que dar a chuteira e a bola para o time de futebol e não deixar jogar. Eu entendo dessa forma, meu presidente. Porque tu vai agora pedir um pedido de informações sobre os EPIs. Sim, mas está fechado. Eu concordo. Tem que ter EPI, tem que ter segurança total. Sou um crítico aqui. Venho, desde agosto do ano passado, elogiando as escolinhas infantis, principalmente, pela volta. Dando todo o apoio, todo o suporte. Menos de 3% das professoras se afastaram, vereador Marcon. Então é seguro, dá para se dizer que é seguro. As escolas são seguras. Estamos num momento que voltou o comércio, graças a Deus. Voltou a indústria, o comércio, o serviço. E os pais precisam deixar as crianças nas escolinhas, e esse aí fechado. Aí elas estão ficando com mãe crecheira, com avó. Mas lá acham que não tem problema. O vírus é só dentro da escolinha, que foi comprovado que não tem lá, que não aconteceu. Mas, infelizmente, o entendimento jurídico lá, das forças judiciais lá, enfim, acham que não é o correto. Então, neste momento aqui, eu vou votar contra, vou votar contra. Os colegas que quiserem me acompanhar, beleza. Mas eu vou votar contra por essa questão. Quando voltar às aulas, sou o primeiro aqui a vir votar a favor de fiscalizar. Porque o poder desses vereadores aqui é de fiscalizar. Nós podemos entrar, sim, nas escolinhas; podemos entrar, sim, dentro do comércio, dentro do serviço público. Porque o nosso dever é a fiscalização. E se não tiver cumprindo, acho que a primeira coisa é pedir a cassação de alvará, interdição da escola e tudo mais. Agora, neste momento aqui, fica meio complicada a situação. Não querem voltar, acham que está tudo errado. Provamos que deu certo, provamos que pode voltar. E daí vem um pedido de informações dos EPIs. Sim, quando voltar eu concordo. Tem que fiscalizar, tem que ter os EPIs e tudo mais. Agora vai fiscalizar de que jeito? Vai dar EPI para quê? Tem situações que até eu vejo que tem data de validade, que talvez o EPI não possa nem ser usado. Né, vereadores? Eu vejo assim. Então tá, então vamos comprar os EPIs agora. Daí quando volta, daqui seis meses, não vale mais. Gente, acho que fazer um pedido de informações eu concordo, já aprovei vários aqui nesta Casa. Disse e digo novamente que, se formar na área da saúde, não aprovo, porque a saúde está um caos. Eles estão lá trabalhando 24 horas. Muitas pessoas aqui não sabem que no sábado retrasado o nosso prefeito de Caxias do Sul, juntamente com a Daniela, tiveram que ligar em São Leopoldo para a empresa abrir às pressas porque ia faltar oxigênio para 47 pessoas. Vocês imaginam 47 pessoas precisando de oxigênio! Aí o prefeito fez um, com todos os contatos dele, graças a Deus e muita gente dizendo que o prefeito não faz nada, é inacreditável… Mas com os esforços conseguiu abrir a empresa, não tinha caminhão, conseguiram caminhão e veio e graças a Deus tudo certo. Então se for pedido de informação para a área da saúde eu voto contra sempre porque deixa eles trabalhar. Na área da educação vou votar sempre favorável, senhor presidente, mas quando voltar as aulas. Então que os vereadores aqui, todos, vamos esquecer esse negócio de só vamos voltar depois da vacina. Não senhor, pode voltar
antes sim, já foi comprovado que menos de 3% teve afastamento e quem não puder, que está naquele grupo de risco, que fique em casa, não tem problema. Mas os que podem tem que voltar a trabalhar, estão sendo pagos para trabalhar. Tem que voltar o presencial. Então no momento oportuno, se for o caso, tiver um pedido de informação nesse sentido votarei favorável. No momento não. Obrigado, senhor presidente.

Bressan informou em nota nesta terça-feira (6), a seguinte mensagem:

NOTA EM RESPOSTA AO SINDISERV
No final da tarde desta segunda-feira (05/04), o Sindicato dos Servidores Municipais de Caxias do Sul (SINDISERV), emitiu Nota Pública repudiando ataque de vereadores a educadores, ocorridos na Sessão Ordinária da última quinta-feira (1/04).

Neste sentido, nos posicionamos da seguinte forma:

1)- O debate ocorrido na Sessão Ordinária era em relação há um Requerimento de Pedido de Informações ao Poder Executivo, solicitando respostas sobre a disponibilidade de EPIs às escolas de Educação Infantil do Município e/ou em gestão compartilhada, e durante parte da minha fala, defendi o retorno presencial das atividades, tendo em vista que na idade compreendida entre 0 e 3 anos, não existe a possibilidade de termos aulas de forma remota, e assim sendo, estes professores (Educação Infantil) estavam sendo pagos para trabalhar presencialmente.

2)- Mais uma vez, na ânsia de atacar àqueles que pensam de forma diferente, no campo político-ideológico, a Presidente da Entidade, Silvana Piroli (Ex-Vereadora e Ex-Presidente do PT), utiliza-se do Sindicato para emitir NOTA DE REPÚDIO, sem ao menos ter prestado atenção no contexto do debate e sobre o que estávamos falando. Além disso, de forma sorrateira, desqualifica este vereador com o intuito de fazer proselitismo político ao tentar jogar a opinião pública contra este parlamentar, que desde o 1º dia de mandato e também na condição de Presidente da Comissão de Educação do Poder Legislativo, vêm pautando suas atividades na transparência, no diálogo e na construção de uma cidade melhor, principalmente na defesa da Educação e na vacinação dos professores junto ao Grupo Prioritário de Imunização.

3)- Em nenhum momento nos colocamos contra a atuação dos professores, sejam eles da Educação Infantil, Ensino Fundamental, Médio e Superior, pois entendemos a dedicação e o esforço com que estão atuando, diariamente, para amenizar as dificuldades enfrentadas por toda a comunidade escolar nesta pandemia;

4)- Sou favorável ao retorno presencial das aulas, respeitando todos os protocolos sanitários, pois entendo que na ESCOLA as nossas crianças e adolescentes estarão mais seguros em relação ao contágio da COVID-19;

5)- Acionaremos judicialmente a entidade, no momento oportuno, para que faça uma RETRATAÇÃO PÚBLICA em relação ao conteúdo do texto e ao fato de criarem narrativas inexistentes e inverídicas, com o claro objetivo de constranger a atuação deste Vereador, enquanto representante legitimamente eleito pela comunidade caxiense.

Ao ser procurado, o vereador Maurício Marcon (Novo), respondeu que não tinha conhecimento sobre o assunto e na data não teria comentado sobre a questão. ” Eu não me manifestei em momento nenhum sobre o assunto. Vou estudar entrar na justiça por uma retratação. E desafio eles a mostrar onde falei isso”, disse.