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Polícia acredita em execução de Marielle e não descarta participação de milícia

Polícia acredita em execução de Marielle e não descarta participação de milícia

As investigações preliminares da Polícia Civil do Rio de Janeiro indicam que a morte da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) foi premeditada e executada por um ou mais atiradores treinados. A análise das câmeras de segurança do local indicam que o carro onde estava a vereadora pode ter sido seguido por cerca de quatro quilômetros desde o momento em que ela saiu do evento na Lapa, no Centro do Rio, na noite da quarta-feira, dia 14, até o ataque, ocorrido no bairro do Estácio.

Isso pode explicar a precisão dos tiros, todos, segundo a perícia, localizados na parte traseira do veículo que tem filme escuro nos vidros. Exatamente onde estava Marielle, o que não seria habitual, revelou a investigação. Esta hipótese indicaria que os assassinos estavam esperando a vítima sair do evento na Casa das Pretas e viram quando ela entrou no carro.

Polícia investiga como execução morte de Marielle Franco (Foto: Câmara do Rio/divulgação)

Segundo os investigadores, um outro veículo pode ter participado da ação criminosa, dando cobertura aos assassinos. A perícia apontou que os tiros foram disparados de um Cobalt prata que teria emparelhado com o carro da vereadora, a cerca de dois metros de distância. De acordo com a Divisão de Homicídios, ainda não se pode afirmar que apenas um atirador efetuou os disparos, mas estaria comprovada a experiência no manuseio de armas de fogo. Os assassinos usaram uma arma 9 mm para executar o crime.

O secretário Estadual de Direitos Humanos do Rio, Átila Alexandre Nunes, afirmou que o órgão está deixando o programa de proteção à disposição das testemunhas da morte de Marielle Franco. O novo chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, disse que a morte da vereadora Marielle pé um atentado contra a democracia e reafirmou que a principal linha de investigação é execução.

A hipótese é compartilhada pelo coordenador criminal do Ministério Público Federal no Rio de Janeiro, o procurador José Maria Panoeiro, que aponta para um possível envolvimento de policiais ou agentes das milícias formadas principalmente por policiais militares, mas também por policiais civis, bombeiros e mesmo integrantes das Forças Armadas, no crime.

Para ele, as primeiras informações da investigação tornam pouco prováveis as hipóteses de uma ação de traficantes ou assaltantes. Ele destaca a forma de organização do crime e um certo grau de planejamento da ação. Ele afirmou que o caso lembra o assassinato da juíza Patrícia Acioli, que atuava em diversos processos em que os réus eram PMs do município de São Gonçalo, o que levou à prisão cerca de 60 policiais ligados a milícias e a grupos de extermínio, morta em 2011 com 21 tiros na porta de sua casa em Niterói (RJ). 11 policiais militares foram condenados pelo seu assassinato.

A polícia avalia que a primeira pista para descobrir a causa do assassinato da vereadora é a denúncia sobre uma suposta violência policial em Acari e busos de agentes do 41º Batalhão da Polícia Militar quatro dias antes do crime.

Embora a segurança do Rio de Janeiro esteja sob intervenção federal militar, as autoridades estaduais continuam responsáveis pelas investigações dos crimes. Mesmo assim, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, determinou a abertura de um procedimento instrutório para a possível federalização das investigações e solicitou à Polícia Federal (PF) para que adote providências para investigar o assassinato. O secretário de Direitos Humanos da Procuradoria-Geral da República (PGR), André de Carvalho Ramos, foi enviado ao Rio para acompanhar o início das investigações.

O crime

Marielle, de 38 anos, foi assassinada com quatro tiros na cabeça na noite de ontem (14), quando ia para sua casa no bairro da Tijuca, zona norte do Rio, retornando de um evento do movimento no negro, na Lapa. A parlamentar viajava no banco de trás do carro quando os criminosos emparelharam com o veículo da vítima e atiraram.

O motorista Anderson Pedro Gomes, de 39 anos, que dirigia o carro da vereadora, também morreu na hora. Uma assessora da vereadora que também estava no veículo sobreviveu ao ataque.

A atuação

Marielle foi a quinta vereadora mais votada nas eleições de 2016 no Rio de Janeiro, com 46.502 votos. Nascida no Complexo da Maré, era socióloga, com mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), tendo feito dissertação sobre o funcionamento das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) nas favelas.

Trabalhou em organizações da sociedade civil como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm). Também coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio.  Recentemente, Marielle havia assumido a relatoria da comissão da Câmara de Vereadores do Rio responsável por monitorar a intervenção federal na Segurança Pública do estado. Com frequência, ela fazia denúncias contra a violência policial em comunidades.