Leonardo Bertelli Piveta
Leonardo Bertelli Piveta

Andando pela rua não é difícil encontrar um mendigo sentado na sombra ou talvez alguém pedindo algo no sinal de trânsito. Em comum essas pessoas têm a sujeira em seus corpos e a falta de esperança estampada em seus rostos. Por vezes, admito que os ignoro. Mesma coisa faz o motorista do carro do lado. Todos com seus afazeres, preocupações, responsabilidades. O próximo não passa de um enfeite de mal gosto em nossa rotina.

Não obstante, ao chegarmos, estacionamos o carro na garagem, adentramos em nossos lares. O padrão por vezes repete-se com aqueles que moram conosco. Eles são ignorados como o mendigo. Preferimos o celular, a televisão do que estar no mundo real. No entanto, naquele vai e vem de pensamentos, preocupações, somos tocados por alguma propaganda sobre as injustiças do mundo. Crianças na África que passam fome. Animais que sofrem maus tratos.

O apelo para tais atrocidades chama nossa atenção. Sentimo-nos tocados, impelidos a tomar uma atitude, a declarar para o mundo como somos bons e importamo-nos com o sofrimento alheio.

Puro autoengano, cinismo. Damos atenção ao que está longe em detrimento a o que está perto, porque dá menos trabalho, exige menos esforço e paciência. Nós deixamos que a situação das crianças da África nos toque. Longe, não precisamos agir efetivamente. O discurso, mesmo que interno, serve para nutrir um sentimento falso de bom-mocismo.

Mais torpe é quando esse sentimento de revolta e cuidado é direcionado para animais. Muitos unem-se a essa causa primeiramente pelo afeto aos bichos – no fundo podem estar escondidos objetivos mais espúrios, como conseguir impulsionar uma carreira política.

O ponto principal é que não há compaixão verdadeira em nenhuma dessas situações. Queremos ajudar o cãozinho que está sem lar, o gato que foi atropelado, a criança que passa fome na Etiópia, mas não damos um real para o mendigo do nosso lado, um bom dia para nossos familiares. O processo de estatização da compaixão está completo. Quem deve cuidar do mendigo ao lado é a prefeitura, quem deve cuidar do idoso em casa é o estado. Nós, bem nós, pagamos imposto. Deixe o político ajudar o próximo.