Não tem como não pensar que o caos do Rio de Janeiro há muito tempo pede uma atitude drástica dos governos, e também é difícil não imaginar que, na crise de governabilidade carioca, talvez colocar o exército nas ruas e no comando das forças de segurança seja mesmo a melhor saída.
Quem vê o sucateamento das polícias, a falta de planejamento a longo prazo em vários setores e os recursos inexistentes, é certo que vai pensar que a intervenção federal pode até ajudar e contribuir para melhorar a segurança pública do Rio de Janeiro no futuro, dependendo de como for conduzida, das medidas que forem adotadas e dos focos da intervenção.
Se o controle administrativo das forças de segurança servir para combater à corrupção da polícia no rio de janeiro e para o enfrentamento mais articulado do crime organizado, terá valido a pena.
Caso contrário, todo esse aparato não vai passar de mais polícia na rua, o que evidente amplia a sensação de segurança, mas passa longe de ser efetivo, porque pra combater organizações criminosas ou quadrilhas estruturadas ou um simples crime profissional, o que é preciso mesmo é melhorar a investigação.
Não adianta só soldado na rua. É preciso investigar e descobrir. Porque não adianta só identificar o sujeito que é o gerente da boca. É preciso seguir o dinheiro. Saber pra onde ele vai. Saber como a droga chega, como a arma entra no morro.
Precisamos de uma polícia melhor treinada, integrada, honesta, bem paga e que faça extensivo uso de inteligência e tecnologia.
Também não dá pra deixar de lado a ideia de que essa intervenção não foi planejada e pode servir pra outros objetivos mais mundanos, como tentar viabilizar uma candidatura do temeroso presidente a reeleição tirando votos da seara do Bolsonaro.
Porque o Rio está longe de ser a cidade mais violenta do Brasil, meus amigos. E porque durante o carnaval não houve o tal surto de violência, ao contrário, dos 27 indicadores de violência, 16 caíram em relação ao carnaval de 2017. E São Paulo à mercê do PCC, então não merece intervenção?
A verdade é que o exército já está nas ruas do rio desde a Eco-92, e lá se vão quase três décadas sem o resultado de diminuir a violência.
A verdade é que, se nós não resolvemos esses problemas, com uma repactuação federativa, com uma reestruturação do sistema de justiça criminal, do sistema carcerário e das polícias, com uma mudança radical no entendimento da política de drogas, nós vamos seguir enxugando gelo.
Porque a resposta da repressão policial deve estar articulada com ações de inteligência, de planejamento urbano, de educação, lazer, transporte, da política de drogas e do controle de armas.
Porque segurança não se faz apenas com policiamento nas ruas, mas com medidas que antes de usar o cassetete, a baioneta e o fuzil, fortaleça a cidadania, assegure os direitos sociais, ofereça emprego, amplie renda e garanta escola e saúde para todos.