LEGISLATIVO

A Casa das Sete Mulheres: Câmara de Caxias do Sul terá maior bancada feminina da história

A partir de 2025, das 23 cadeiras do Legislativo, 30% serão ocupadas por mulheres. Confira quem são as eleitas e o que projetam para seus mandatos

Com sete mulheres eleitas, Câmara de Caxias do Sul terá maior bancada feminina da história
Foto: Arquivo Pessoal/Samir Tuffy/Marines Bertuol, Câmara Caxias/Divulgação

As urnas conferiram neste domingo (6) um aumento na representatividade feminina na política em Caxias do Sul. A Câmara municipal contará, pela primeira vez, em 132 anos de história, com sete vereadoras. O recorde anterior era de cinco parlamentares mulheres, registrado na legislatura que termina neste ano (2021-2024). A partir de 1° de janeiro de 2025, das 23 cadeiras do Legislativo, 30% serão ocupadas por mulheres. Confira, ao fim da reportagem, o que elas projetam para seus mandatos.

Da composição atual, se reelegeram as vereadoras Estela Balardin (PT), Marisol Santos (PSDB) e Rose Frigeri (PT). Estreiam Andressa Mallmann (PDT), Andressa Marques (PCdoB), Daiane Mello (PL) e Sandra Bonetto (Novo).

Daiane foi a mais votada entre as candidatas e atingiu a terceira posição no quadro geral, com 5.034 votos. Em seguida, na classificação das eleitas, vem Marisol, com 4.783, e Estela, com 3.821. Ao todo, as sete somam 23.443 votos.

A futura bancada feminina também é marcada pela diversidade no âmbito do espectro político. Quatro pertencem a partidos de centro-esquerda à esquerda (PDT, PT e PCdoB); e três integram siglas situadas entre centro-direita e direita (PSDB, Novo e PL).

As sete eleitas têm idades entre 25 e 61 anos, e contam com histórico político anterior à Câmara, como atuação em movimentos estudantil ou comunitário, por exemplo. A exceção é Andressa Mallmann, que ingressa no exercício público a partir da vereança.

Saiba mais sobre as eleitas para a Câmara.

Andressa Mallmann (PDT) – eleita pela 1ª vez – 3.491 votos

Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

Os casos de maus tratos aos animais levaram a empresária Andressa Mallmann, 40 anos, a entrar na política. Filiada ao PDT, tornou-se vereadora já na primeira vez em que concorreu. Fundou e é presidente da ONG Sem Raça Definida, de Caxias, que atende a animais vítimas de crueldade. É protetora e ativista há mais de 15 anos e coordena uma hotelaria/spa para cães e gatos. Nasceu em Veranópolis, mas mora em Caxias do Sul há duas décadas.

Andressa promete atuação na causa e bem estar animal, pretendendo unir ONGs e protetores independentes com intuito de discutir quais são as principais demandas do segmento na cidade.

O que significa para você o aumento no número de vereadoras e qual a importância da representatividade feminina na política?

Fiquei muito entusiasmada quando vi o resultado, porque a quantidade de mulheres nos mostra claramente, através dos votos, o poder que as mulheres têm em fazer uma política melhor, em se unir e transformar as políticas públicas independentemente das suas bandeiras. É um orgulho poder estar ao lado delas.

Andressa Marques (PCdoB) – eleita pela 1ª vez – 2.171 votos

Foto: Samir Tuffy/Divulgação

Andressa Marques, 28 anos, é natural de Itaqui, mas mora em Caxias do Sul desde os oito. É formada em Serviço Social. Atuou no movimento estudantil em instituições da cidade e também na presidência da União da Juventude Socialista (UJS/Caxias do Sul). Na eleição passada fez 1.360 votos para vereadora e atingiu a 1ª suplência do PCdoB. Assumiu o cargo temporariamente em 2021.

Considera como sua bandeira o movimento comunitário e afirma que seu trabalho será voltado aos projetos sociais e à aproximação com as comunidades.

O que significa para você o aumento no número de vereadoras e qual a importância da representatividade feminina na política?

Esse resultado demonstra um olhar da sociedade em relação à democracia. Não há como pensar em uma democracia plena e ampla sem pensar na participação das mulheres. Olhando para a Câmara dos Deputados ou para o próprio Executivo, temos poucas mulheres, o espaço de poder ainda é excludente. Para uma democracia de fato precisamos ter os segmentos mais representados, e as mulheres são um segmento fundamental. Somos mais da metade do eleitorado, estamos em todos os espaços da sociedade, e a política é um deles. Mas precisamos avançar. A mulherada tem que se unir, dialogar para além dos próprios partidos políticos, ter pautas em comum e pensar em como se fortalecer na sociedade.

Daiane Mello (PL) – eleita pela 1ª vez – 5.034 votos

Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

Daiane Mello, 37 anos, é moradora do bairro Fátima. É mãe, casada e formada em Relações Públicas. Atua há 20 anos como líder comunitária na região onde vive. Recebeu, neste ano, a Medalha Mérito Comunitário da Câmara de Vereadores, que premia personalidades locais pelo trabalho voluntário em favor da comunidade. Daiane concorreu a vereadora em 2012, 2016 e 2020, ocasiões em que ficou na suplência do MDB. Em algumas oportunidades assumiu o cargo temporariamente.

Promete, durante o mandato, atuação comunitária e, também, ações nas áreas da saúde, educação e inclusão.

O que significa para você o aumento na representatividade feminina na Câmara e qual a importância dela?

É a casa das sete mulheres (brincou). A mulher cuida das coisas nos detalhes. Tem situações em que o homem pode passar dez vezes, mas se a mulher passar, não vai passar em branco. Vejo isso pela cobrança da taxa adicional dos partos, assunto que eu critiquei num período breve que estive na Câmara (como suplente). Vereadores (na época) me disseram que passaram por isso, mas nunca notaram que é uma cobrança ilegal e que poderia ser denunciada. Acho que isso é importante nas mulheres, com a bancada feminina, porque somos, também, a maioria dos eleitores. Vamos olhar as situações da educação, da inclusão. Isso precisa de um olhar de mulher.

Estela Balardin (PT) – reeleita – 3.821 votos

Foto: Marines Bertuol/Câmara Caxias

Reeleita parlamentar, Estela Balardin, 25 anos, entrou na política ainda na adolescência, por meio do movimento estudantil. Atuou como professora de séries iniciais e estuda Serviço Social no Ensino Superior. É a vereadora mais jovem eleita na história de Caxias, feito que conseguiu aos 21 anos, no pleito de 2020.

Afirma que dará continuidade a pautas trabalhadas por ela nesta legislatura, como habitação digna e atenção às áreas de risco, e a saúde.

O que significa para você o aumento na representatividade feminina na Câmara e qual a importância dela?

Nós termos um aumento da bancada feminina para sete mulheres é uma resposta da sociedade sobre a importância que tem a mulher dentro de todos os espaços, inclusive dos espaços de poder, de decisão. Ainda temos muito o que lutar, digo que precisamos ser pelos menos 30% (da composição). Se 30% concorre (cota de gênero), tem que ser 30% eleitas, para cada vez mais avançarmos enquanto sociedade. Ter mulheres nos espaços de poder é uma mostra de que estamos avançando em representatividade e demonstrando as capacidades que todas as mulheres têm.

Marisol Santos (PSDB) – reeleita – 4.783 votos

Foto: Marines Bertuol/Divulgação

Com mandato renovado para os próximos quatro anos, Marisol Santos, 47 anos, é a atual presidente da Câmara. Nascida em São Leopoldo, é jornalista e relações públicas e também atuou como professora. Participa do Movimento Tradicionalista Gaúcho desde a infância. Antes de se eleger pela primeira vez, em 2020, atuou como assessora parlamentar.

Projeta dar seguimento a ações na educação, no eixo das altas habilidades e superdotação e na saúde, com a implantação de um banco de leite humano.

O que significa para você o aumento na representatividade feminina na Câmara e qual a importância dela?

Foi uma grande conquista o aumento do número de vereadoras mulheres para a próxima legislatura. Falávamos que ter cinco vereadoras era motivo de celebração, mas, ao mesmo tempo, que éramos muito poucas diante do número de vereadores, diante do fato que a Câmara é a representação da sociedade. Se temos uma população de maioria mulheres, um eleitorado também com as mulheres sendo maioria, não poderíamos estar tão aquém no Legislativo. Não somos metade, mas já somos mais, isso é muito importante.

Rose Frigeri (PT) – reeleita – 2.329 votos

Foto: Marines Bertuol/Câmara Caxias

Rose Frigeri, 61 anos, é mãe, professora e advogada. Tem 40 anos de militância política, com atuação nos movimentos estudantil, sindical e da educação. Integra a Marcha Mundial das Mulheres e o Fórum da Mulher Caxiense. Rose se candidatou ao Legislativo em 2020, quando atingiu a 1ª suplência, com 1.554 votos. Assumiu efetivamente o cargo no ano passado, após Denise Pessôa (PT) assumir mandato como deputada federal.

Tendo como pauta principal o movimento de mulheres, Rose afirma que trabalhará para que Caxias do Sul conte com uma Casa da Mulher Brasileira, projeto do governo federal que reúne órgãos de proteção às mulheres contra a violência.

O que significa para você o aumento na representatividade feminina na Câmara e qual a importância dela?

A participação da mulher na política é um debate que faço na Câmara. Um dos primeiros projetos de lei que apresentei foi da Semana Municipal da Mulher na Política, em que na semana de 3 de novembro debatemos o assunto. Ano passado fomos em escolas, universidades, para debater isso. Hoje, vemos que as mulheres são a maioria da população, a maioria dos eleitores são mulheres, mas somos subrepresentadas nos espaços. Quanto mais mulheres na política, quem ganha é a democracia, é a população, por ter mais representação do povo.

Sandra Bonetto (Novo) – eleita pela 1ª vez – 1.814 votos

Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

Há 30 anos na ‘lida comunitária’, Sandra Bonetto, 45, é presidente da Associação de Moradores de Bairro (Amob) Forqueta. Já foi subprefeita da região administrativa, situada na região Oeste da cidade. Possui graduação em relações públicas pela Universidade de Caxias do Sul (UCS).

Considera como suas bandeiras a agricultura, pela atuação no interior da cidade, e a cultura, segmento em que desempenhou cargos em entidades.

O que significa para você o aumento na representatividade feminina na Câmara e qual a importância dela?

Acredito que as mulheres não podem ser mais nem menos que os homens. Temos que ser iguais. Temos 23 vagas (na Câmara), teríamos que ter no mínimo 11 ou 12 mulheres. Estamos chegando lá, com sete mulheres, mas ainda precisamos ocupar os nossos lugares. As mulheres ainda são vistas como donas de casa, professora, mas a mulher pode fazer mais coisas, como qualquer homem. Temos que nos igualar em todas as posições. (Para isso) precisamos ser exemplo na Câmara, mostrando para as outras mulheres que elas podem chegar onde quiserem.