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Estelionatários que aplicavam golpe em Caxias do Sul são presos em São Paulo

A investigação vem sendo realizada há mais de 6 meses

A organização criminosa age na modalidade “Golpe do Cartão Clonado” (ou “Golpe do Motoboy”)
A organização criminosa age na modalidade “Golpe do Cartão Clonado” (ou “Golpe do Motoboy”)

Na manhã desta terça-feira (8), a Polícia Civil deflagrou a Operação Alcateia, com o objetivo de desarticular uma organização criminosa especializada em aplicar, particularmente em idosos, o Golpe do Cartão de Crédito Clonado. Foram cumpridos 87 mandados judiciais, sendo 67 mandados de busca e apreensão e 20 mandados de prisão preventiva. Na ação 16 pessoas foram presas, entre as quais dois líderes da organização. Foram apreendidos diversos objetos relativos aos golpes, inclusive duas centrais telefônicas.

A Operação Alcateia é resultado de investigações realizadas por duas delegacias da Polícia Civil Gaúcha, a DPICOI (Delegacia de Proteção ao Idoso e Combate à Intolerância) de Santa Maria e a 1ª DP de Pelotas. O cumprimento dos mandados judiciais, realizados no estado de São Paulo, foi executado com o auxilio da Polícia Civil de São Paulo. A ação foi batizada com o nome de Alcateia devido ao fato de os estelionatários iniciarem o contato com a vítima com a desculpa de que estão tentando ajudar, a sua atuação foi comparada à expressão “lobo em pele de cordeiro”.

Estima-se que o valor de prejuízo às vítimas totalize mais de R$ 550.000,00 (quinhentos e cinquenta mil reais). Já foram identificadas 43 pessoas com participação direta e indireta nos crimes, entre as quais “motocas”, responsáveis pela busca dos cartões,  “telefonistas”, responsáveis pelo trabalho de instalação da central com o sistema “URA” e também pelo local de onde são feitas as ligações,  “fiscais” responsáveis por fiscalizar as transferências bancárias, e “laranjas”.

Apurou-se que os dados de 62 mil vítimas, quase todas idosas, foram vendidos para os criminosos pela empresa “Direct Já”. Dentre os dados há as seguintes informações: nome completo, data de nascimento, endereço completo, telefones fixo e celular, email, escolaridade, profissão, aposentadoria (sim ou não), se a pessoa possui banda larga, renda, banco utilizado e agência bancária. Essa é a forma pela qual os criminosos conseguem dar credibilidade a sua conduta. Pois, assim, a vítima acredita que está falando com um representante da central ou do banco.

Sobre a atuação dos criminosos:

Tudo começa com a realização de uma ligação para a vítima, geralmente pessoa idosa, onde o interlocutor identifica-se falsamente como funcionário de uma central de monitoramento de cartões, e solicita confirmação de supostas compras. A vítima relata que não foram autorizadas as “supostas”. Em seguida, o criminoso orienta a vítima a ligar para o seu banco, para o número existente no verso do cartão bancário. A vítima, acreditando que foi alvo de uma “clonagem”, liga para o número verdadeiro da central bancária, mas os criminosos desviam a sua ligação por meio de uma central telefônica que tem instalado o sistema para call center. A partir daí, a vítima passa a falar com outro criminoso, que se identifica como funcionário de uma central de segurança do banco, que diz que o cartão da vítima foi clonado e que estão sendo feitas compras. O suposto funcionário diz que será necessário realizar um procedimento de bloqueio do cartão e também uma “investigação de clonagem”.

A vítima é orientada a inserir dados pelo teclado do telefone, dentre eles a senha do cartão, que é inserida pela vítima quando uma gravação eletrônica preparada pelos criminosos, a solicita. A todo o momento, o estelionatário fala que a ligação é segura e está sendo gravada. A vítima é orientada a cortar ao meio o seu cartão bancário, sem danificar o chip, escrever uma carta de contestando as supostas compras e autorizando uma “investigação junto ao banco e polícia civil ou federal”. Em seguida, é solicitado que a vítima entregue o cartão cortado e a carta, dentro de um envelope lacrado (com cola e grampos), em uma agência de outro estado, naquele mesmo dia. Como a vítima diz que não tem condições de fazer isso, o criminoso fala que irá mandar um representante até a casa da vítima para recolher o envelope com o cartão e a carta.

Outro criminoso vai até a casa da vítima e apanha o seu cartão. Os criminosos comunicam-se o tempo todo e a senha é repassada para o indivíduo que está em posse do mesmo. Assim, são feitos saques e compras via máquinas de cartão débito/crédito, que estão em poder do indivíduo. O criminoso que está falando com a vítima solicita que o seu aparelho celular seja desligado por algumas horas, para que sejam feitas atualizações de segurança. Isso faz com que a vítima não receba alertas enviados pelo banco a respeito dos saques, compras e transferências efetuados pelos golpistas.

A organização criminosa possui bases em São Paulo/SP, e apenas os indivíduos que recolhem os cartões deslocam-se para as cidades onde estão as vítimas. Esses são os chamados “motocas” ou “retiras” e a todo o momento há comunicação entre eles e sua “base”, em São Paulo. O local de onde partem as ligações foi desarticulado na manhã de hoje. Há fortes indícios de que essa organização criminosa possui ligações com a facção criminosa PCC. Também, os criminosos utilizam-se das restrições impostas pela pandemia de Covid-19 para fazer com que as vítimas não se desloquem até a agência.

Atuação criminosa

A organização criminosa praticou crimes no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Piauí, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro. No RS foram praticados crimes em Santa Maria, Cachoeira do Sul, Rio Pardo, Passo Fundo, Pelotas, Rio Grande, Erechim, Caxias do Sul e Soledade.

Em Santa Maria, entre 01 de janeiro e 01 de dezembro de 2020, foram praticados 67 golpes, com prejuízo às vítimas de quase R$ 600.000,00. Aliás, pela Polícia Civil já prendeu em flagrante, em Santa Maria e Pelotas, 16 pessoas pela prática desse crime.

Na manhã desta terça-feira (8), foi desencadeada a Operação Alcateia, contando com apoio da Polícia Civil de São Paulo, foram 18 agentes policiais de Santa Maria, 06 de Pelotas, 145 Policiais Civis de São Paulo e 68 viaturas, e 3 Delegados. Até o momento, 14 pessoas foram presas.

Fonte: PC / Divulgação

Foto: PC / Divulgação