Opinião

Uma excrescência não salva outra

Uma excrescência não salva outra


A anta de concreto continua inerte na praça Vico Barbieri. Ela e os demais bichinhos estão ali sem água, sem que sequer as crianças pedintes que usam a sinaleira pra pegar um trocado lhes dirijam qualquer olhar. Se pudessem, os bichinhos pediriam atenção à praça que lhes serve de habitat e que lentamente se deteriora, assim como eles mesmos.

Enquanto isso a um cantinho, outrora batizado pelos vizinhos como “cantuccio dela felicittà”, que está sob o risco de ser agredido e eliminado. Os vizinhos já nem tomam chimarrão com a mesma frequência. Perderam espaço para mendigos que usam os bancos pra dormir ou tomar sua pinga. Mas, se depender da prefeitura isto vai mudar. Vão, como preconiza o dito popular, “tirar o sofá da sala”. É intenção do secretário de mobilidade urbana, com aquiescência de novos moradores e antigos barões, rasgar uma rua entre as velhas árvores que até agora resistem a ocupação humana.

A iniciativa, cujo projeto está sendo desenhada nas escrivaninhas da Prefeitura, é a má emenda a um péssimo soneto. A rua Cavalheiro Horácio Monaco é mesmo predestinada a ser importante. Nela estão dois supermercados; há um importante conjunto residencial onde antes era a vinícola Monaco e por ela flui todo o trânsito procedente da zona leste da cidade. A via termina onde começa a escadaria que vai dar na frente da Unimed. Ainda assim, com todas as limitações físicas que ela oferece o Ipurb, certamente respaldado pelo Plano Diretor, permitiu a construção de duas torres de 14 andares no trecho em que a rua já é beco. São mais de 100 novas habitações. Lógico que gera ainda mais conflito no trânsito próximo.

Então, a saída será rasgar um pedaço de rua entre as velhas árvores. Uma excrescência remendando outra excrescência. Diz-se até, que ainda mais prédios altos serão liberados no beco. A ironia é que não temos tempo pra nos preocupar pois as atenções estão voltadas para o bairro São Bento, que, vejam só, não quer edifícios.

Será que alguém não previu que a ocupação desenfreada vai transformar o local num espaço de conflitos? Senhor Pasin, se não há dinheiro para os túneis e mergulhões propostos em campanha eleitoral, qual seria a necessidade e a pressa de abrir um pedacinho de rua no limite entre o Centro e o Bairro São Francisco? Os interesses de quem estão sendo atendidos? Onde está o planejamento da cidade? Afinal, a medida está sendo proposta de maneira açodada e sem qualquer estudo prévio. Se observarem, aliás, o estacionamento da via é uma piada sem graça. Começa oblíquo, e logo adiante, fica paralelo. Parabéns, uma belezinha.

A gente até imagina as motivações para as pretendidas mudanças e para as permissões já concedidas. É preciso acabar com este tipo de clientelismo. Por favor Prefeito Pasin e Secretário Amarildo, considerem a totalidade dos vizinhos e não apenas o interesse de parcela deles.