Opinião

Os eleitores de Bolsonaro

Os eleitores de Bolsonaro

Tem algo que intriga cientistas e analistas políticos: como explicar a ascensão de Bolsonaro – e mais do que isto – a manutenção e até crescimento de sua popularidade?

Sim, porque uma vez muitas pessoas neste país duvidavam que algum dia Lula se elegeria e que o PT governaria o país. O dia chegou e se renovou em mais três eleições.

A única lógica facilmente inteligível dá conta de que nem todos os que votaram em Lula eram petistas ou comunistas, logo, não foram só os fascistas e conservadores de direita que elegeram Bolsonaro. Lula tinha uma legião de seguidores sob o manto partidário construído à base de assembleias e de porta em porta e, vejam só, na defesa da ética. Quem era e quem é hoje o PSL? Só uma sigla que abrigou o deputado Bolsonaro. Logo depois de servir ao seu propósito o partido foi devidamente reposicionado no rodapé da vida política nacional.

Pois o cientista político Jairo Nicolau se dedicou a estudar, não Bolsonaro, mas as pessoas que o elegeram. O fruto de seu estudo é o livro “O Brasil dobrou à direita”, a ser lançado em 5 de outubro.

Entre tantas conclusões a que chega, algumas já conhecíamos: a força do whatsapp, o movimento anti petista, a dificuldade da imprensa em entender como um deputado medíocre e de declarações torpes pode se manter presidente.

Nicolau revela que Bolsonaro não precisa do eleitor do Nordeste para se manter presidente. Sua base está fortemente localizada na periferia dos centros urbanos. Não são fascistas ou conservadores da classe média e média alta – que possivelmente não representam contingente suficiente para sozinhos eleger um presidente. É formado, isto sim, por uma classe de pessoas que se veem refletidos. “Bolsonaro conseguiu se mostrar um líder para para boa parte do eleitorado. São pessoas comuns que veem nele um mito, que se identificam com ele e acham que ele fala aquelas coisas que muitos acham uma aberração, apenas por ser uma pessoa comum que está nervosa e sob pressão”, racionaliza o cientista político Nicolau.

Nem o auxílio emergencial pode explicar sozinho a popularidade do “mito”. Ela precede estes tempos. Inicialmente tratado como um politico exótico que passou a aparecer em programas de comédia (CQC ou Pânico) o Presidente foi se tornando protagonista na cena política. Era algo diferente do cenário habitual. Mesmo em quarto mandato na Câmara era um outsider (está aí o PSL, também uma novidade, para comprovar).

Resumindo então: a força de Bolsonaro está em ser um político diferente da média, que fala o que pensa e que pensa à direita, com valores tradicionais à moda Família Tradição e Propriedade. Como Lula no Mensalão, as notícias em torno de negócios mal explicados dos filhos não colam nele. Seu eleitorado é formado por “cidadãos de bem” e também por moradores da periferia (que são gente de bem, porém com menos dinheiro). O fato é que não apenas os que xingam quem critica o Presidente votara em Bolsonaro e isso é bem importante.

O maior erro de Lula, foi ter permitido uma rede de corrupção pluripartidária se instalar no governo – vá lá, falou um pouco de humildade ao ex-metalúrgico em determinado momento também. O maior erro de Bolsonaro é sua postura (declarações) e, dirão alguns, a falta de diálogo com estes que ajudaram a afundar Lula. Pois é, a política meus amigos, não é para muitos e exige contorcionismos. O eleitor? Ele não tem nada com isto. Vota naquele que se apresenta como a melhor opção ou para protestar contra tudo e todos.