Opinião

Fenavinho, Jauri Peixoto e o ano de 1985

Fenavinho, Jauri Peixoto e o ano de 1985

No meio dos anos 80, quando aportei em Bento, com muito ânimo curiosidade e cheio de planos, a vida era muito diferente, a cidade menor e mais simples.

Quando fevereiro chegou o município celebrou a Fenavinho. Uma festa grande, bonita e envolvente. O slogan dizia em tom de  ufanismo: “O maior espetáculo da terra”.

Pra mim, aqueles sons, aromas e sabores, além das cores era experiências novíssimas e excitantes. Polenta brustolada, queijo e copa, riesling e cabernet – tudo que o cartaz com o Nono Maso prometia – mais a Sheila Telli como imperatriz. Vinho encanado na rua Marechal Deodoro que ainda não era a Via Del Vino. A rua principal tinha pistas para os carros em duas mãos e os velhos ligustros margeavam as pistas.

A loja Lapolli numa esquina e a Prefeitura sem chafariz ou um “largo” que admitisse aglomerações de pessoas (nostalgia até das aglomerações).

Na política um atrevido Ormuz Rivaldo era o mandatário secundado pelo jovem e promissor Aido Bertuol. A Câmara então ficava ali, na mesma Marechal Deodoro, onde hoje funciona o restaurante De Villa. Estrutura acanhada se comparada à sede de hoje, inaugurada naquele mesmo ano de 1985. O seu Costa era diretor e espécie de “móveis e utensílios” da Casa. O espaço acomodava 21 vereadores e raros assessores. A vida era mais simples, a política… bem aí é outra história.

Veio a modernidade. Mais espaço, maior conforto, muito mais assessores e mesmo com quatro vereadores a menos, hoje falta espaço. Aliás, se contar o número de ex-vereadores com emprego no Palácio 11 de Outubro, facilmente contaremos 21 vereadores novamente.

Estas reminiscências me ocorreram na manhã fria e triste de segunda-feira enquanto eram prestadas as últimas homenagens a Jauri da Silveira Peixoto (cinco mandatos como vereador, apenas um a menos que o recordista Mário Gabardo).
No Legislativo Peixoto não demonstrou a ambição pela presidência. Talvez dos tempos como jogador, aprendeu que o todo era mais importante que o estrelato. Agora foi ao encontro de colegas que estavam ao seu lado naquele ano. Jovino Nolasco, o criador da Via del Vino, Jurci Manzoni, o pai do laborioso Álvaro e do saudoso Angelo Dalla Coletta.

Não entendo que por morrer os defeitos desaparecem com as pessoas. Mas acho mais justo lembrar dos predicados e neste sentido, Jauri tinha bem mais virtudes do que defeitos. Leva consigo histórias, construções, certamente muitas decepções das quais a política é fonte inesgotável. Deixa em mim a saudade de um tempo que não volta também – ah, a minha primeira Fenavinho…