Janeiro é mês de colheita para cursos preparatórios, para matrículas em escolas e para cursos profissionalizantes. Ora pois, estamos calejados e doutorados na lição número um para o desenvolvimento de uma Nação: é preciso investir em educação. Estão aí o Japão, a Coreia e os países nórdicos a nos apontar o caminho.
O que me deixa frustrado. E não apenas a mim, é ver que anos de estudo e dedicação podem levar a um labirinto que sempre nos faz voltar ao ponto de partida. Nada de evolução. Parece o pesadelo em que você fica preso no lodaçal e o monstro se aproxima. Então o cara estuda por décadas no ensino formal, faz especialização, mestrado e, de repente, a Universidade em que ele dá aula resolve dispensá-lo pra contenção de despesas já que o número de matrículas caiu.
O Brasil está em meio a uma crise nunca antes vista. Governos estão com os cofres exauridos. Os Estados quebrados e os municípios mal conseguem pagar a folha do funcionalismo. Resultado: uma economia em depressão, desemprego assombroso e gente diplomada indo vender trufas nas esquinas. Então deve-se falar de queda na renda sim. Mas não me venham com eufemismos pra dizer que este sujeito que se especializou em mecânica dos fluidos ou em cálculo estrutural está com a oportunidade de se tornar um empreendedor. Pelo menos não se a saída for vender docinho de porta em porta. Isto tem outro nome.
Aqui a gente pode e deve falar em queda na renda e na classe social. Mas tem um subproduto tão ruim ou mais maléfico ainda. A autoestima do sujeito vai parar aonde? Você acorda depois de uma noite mal dormida. Vê na parede o diploma do ensino superior conquistado a duras penas e precisa arrumar ânimo pra produzir a sua pamonha, rapadura ou o que quer que seja e depois sair tentando vender pra levantar uns trocados. O nome disso é infelicidade. E não será na infelicidade ou às custas de cinco meses de seguro desemprego que se moverá um país com tantas carências.
Confesso que não li o artigo de Martha Medeiros que foi tema para o vestibular da UFRGS. Mesmo assim entendo ser um tema muito bem proposto. Fala do desencanto com a política e com a morte da ideia de que um “Salvador da Pátria” virá nos redimir e colocar o país nos trilhos. Não sei onde está a saída. Só sei que frequentar uma faculdade, quebrara a cabeça estudando não pode ser desprezado por uma Nação que cultiva desemprego e joga s pessoas no trabalho informal. Quero continuar acreditando que está, sim, no talento, mas muito mais na dedicação aos livros e ao estudo e não na pamonha ou nas trufas.