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Clássicos Históricos: o dia que a torcida do Caxias soltou um porco no Alfredo Jaconi

Clássicos Históricos: o dia que a torcida do Caxias soltou um porco no Alfredo Jaconi

Um clássico pode entrar para a história por diversos motivos. Muitas vezes por valer uma taça, por ser uma goleada, ou até mesmo por responder às fortes provocações dos rivais durante a semana toda. Mas ele pode, também, ser marcante por algo que não envolva nenhum dos 22 jogadores. Como foi no Ca-Ju de 13 de Março de 1977, relembrado até hoje pela torcida do Caxias por soltar um simpático porquinho no Alfredo Jaconi, casa do rival. Com gol de Osmar, o Caxias levou a melhor no campo.

Durante os anos 70, Caxias e Juventude viviam uma rivalidade acirradíssima. Após uma fusão entre os dois clubes que durou poucos anos e uma “Guerra Fria” para participar do Campeonato Brasileiro (vencida pelo Caxias), cada clássico era aguardado com grande expectativa na cidade.

E assim foi o Ca-Ju 153. Era o primeiro do que seriam 12 confrontos entre Caxias e Juventude naquele ano. Minutos antes de iniciar a partida, a TOSCA (Torcida Organizada S.E.R. Caxias), principal torcida do Grená, acabou soltando um porco fardado com as cores do Juventude no gramado. Aos gritos de “Chiqueiro!”, os torcedores do Caxias faziam a festa no Alfredo Jaconi.

Um dos presentes naquele momento era Germano Rigotto. Na época diretor do Departamento de Relações Públicas do Caxias, Rigotto acabou levando a fama pelo episódio, mesmo não estando envolvido na brincadeira. Ele conta como foi a reação da torcida quando o porco entrou no gramado:

“Neste Ca-Ju, surgiu dentro da TOSCA a ideia de levar um porquinho para o estádio com a camiseta do Juventude. Eles organizaram isso e levaram ele dentro de um tambor, cheio de papel picado. Um dos membros da torcida cavou um buraco embaixo do muro do alambrado, onde seria a passagem do porco. Cerca de 10 minutos antes de começar o jogo, quando os times estavam para entrar em campo, tiraram ele de dentro do tambor e colocaram embaixo do alambrado.”

O porquinho desfilou pelo gramado, driblou seguranças e gandulas até ser capturado. Após isso, até voltou com uma camiseta com as cores do Caxias, mas a Brigada Militar acabou tirando o animal. Rigotto destaca a vibração da torcida Grená pelo feito:

“Ele parecia que tinha sido treinado. Foi na frente da torcida do Caxias e alguém atirou uma melancia no gramado. Ele fuçou na melancia e a torcida do Caxias explodiu de alegria. Hoje, por exemplo, se acontecesse isso teria problema com a sociedade de proteção aos animais. Na verdade, teriam vários problemas.” Diz Rigotto, de forma bem humorada.

A melancia também fazia parte das provocações da torcida Grená. Em uma faixa, provocavam a torcida do Juventude: “Eles são como melancias: Verde por fora e de inveja bordô por dentro.”

Segundo Alex Antunes, historiador da S.E.R. Caxias, tamanha rivalidade entre Caxias e Juventude naquele Ca-Ju do porco pode ser explicada por dois grandes fatos que ocorreram nos anos anteriores.

O primeiro deles foi a separação dos clubes, após uma fusão que durou alguns anos. Na época, o Grêmio Esportivo Flamengo e o Juventude, maiores clubes da cidade, viviam com problemas financeiros e decidiram juntar forças. Surgia em 1971 a Associação Caxias de Futebol. A Fusão durou apenas até 75, quando o Juventude decidiu desfazer a sociedade. Com isso, o Flamengo também ressurgiria, mas como Sociedade Esportiva e Recreativa Caxias do Sul.

O segundo fato foi uma verdadeira “Guerra Fria” no município. A CBD havia anunciado mais uma vaga gaúcha para o Campeonato Brasileiro de 1976. Porém, alguns requisitos eram necessários para isso. Um deles era possuir um estádio com capacidade para 25 mil pessoas. O Alfredo Jaconi, do Juventude, possuía. Já a Baixada Rubra, estádio do Caxias, comportava apenas 10 mil torcedores. Com isso, era consenso que a vaga iria para o Juventude, mas Francisco Stédile, então presidente da S.E.R. Caxias, fez uma promessa que mudaria os rumos daquela tão sonhada vaga.

“O Francisco Stédile avisou à CBD que construiria um estádio com capacidade para 30 mil pessoas. Por isso que o Estádio Centenário foi construído em poucos meses, em um período recorde.” Conta o historiador.

Com o estádio construído, surgiu um dilema para a CBD. Ambos os clubes lutavam pela vaga. A Confederação decidiu, então, que a vaga iria para a equipe que tivesse o melhor resultado no Campeonato Gaúcho de 76. Acabou dando Caxias.

“Na época do Ca-Ju do porco, a rivalidade entre Caxias e Juventude estava muito alta. Muita provocação de torcida. Não tinha clássico há muito tempo. Tudo isso contribuiu para os fatos que ocorreram naquela partida.” Diz Alex.

Entre os presentes no estádio, um futuro governador

Muito antes de se tornar governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto era uma figura influente na S.E.R Caxias. Além de ser diretor do Departamento de Relações Públicas, Rigotto também foi um dos fundadores da TOSCA (Torcida Organizada S.E.R. Caxias), a primeira grande torcida do grená.

Rigotto lembra de como era a rivalidade naquela década: “Havia uma grande disputa em cada Ca-Ju nos anos 70. A mobilização na cidade era grande, com carreatas e bandeiras nas sacadas. Além disso, os estádios eram divididos em meio a meio para as torcidas.

Ele destaca a mobilização da torcida para os jogos do Caxias, tanto dentro quanto fora de casa: “A organização da TOSCA era impecável. Era papel picado, charangas, bandeiras, tinha de tudo.”

Rigotto também conta que em um clássico seguinte ao Ca-Ju do porco houve mais uma provocação da TOSCA. Durante a carreata da torcida, havia um “chiqueirinho” dentro de um dos fuscas. Nele, novamente um porquinho com a camiseta do juventude. Ao lado, uma placa onde estava escrito: “Eu voltei.”

Dentro de campo, desta vez no Estádio Centenário, o Caxias novamente venceu o Juventude. Apesar de Rivais, Germano Rigotto mantia um bom relacionamento com os dirigentes do Juventude. Em especial, Plínio Backendorf, que desempenhava a mesma função de Rigotto no clube, e João Fasoli, presidente do Juventude. Mesmo sem saber o que estava acontecendo, Rigotto acabou levando a culpa pela provocação na carreata e foi criticado.

“Vou eu imaginar que vão colocar um fusca com um chiqueirinho atrás e um porquinho com a camisa do Juventude. No final do jogo, meu amigo João Fasoli me deu um esporro no rádio dizendo que a camiseta do Juventude não poderia ser desrespeitada. E eu não tinha ideia do que estava acontecendo. Eu, como era diretor de relações públicas, acabei levando a fama tanto nesse episódio quanto no Ca-Ju do porco.” Conta Rigotto, rindo da situação.

Apesar das provocações, as brincadeiras eram vistas como parte do espetáculo, e não eram levadas a sério.

“Era bem diferente torcer naquela época do que é hoje. Realmente, era um outro tipo de torcida. Muito mais alegre, uma disputa muito mais legal. As pessoas vibravam muito e coloriam a cidade com as carreatas. Hoje em dia não tem a mesma vibração que tinha naquela época. A torcida do Juventude também tinha uma grande organização. É uma pena. Aqueles episódios determinavam o que era um Ca-Ju. Com o passar do tempo isso foi desaparecendo. Por mais que tenha a presença de público hoje, não tem nada a ver com o que era antes.” Conta Rigotto.

Por toda sua vida política, Germano Rigotto é um dos mais famosos torcedores da S.E.R. Caxias. Como um bom Grená, conta histórias sobre o título do Gauchão de 2000, a polêmica Série B de 2001, onde o Caxias acabou perdendo a vaga para a elite do ano seguinte no tribunal, e também sobre a conquista mais recente do clube, a Taça Ewaldo Poeta. Perguntado sobre o trabalho de Rafael Lacerda, Rigotto elogiou o atual treinador do Caxias.

“O Lacerda é a grande revelação como treinador. Faz um trabalho excelente. É diferente o jeito de jogar do Caxias dos outros clubes do interior. O plantel do Caxias do ano passado para esse ano mudou todo praticamente. Teve um papel muito importante junto à direção para contratar bem, treinou bem o elenco e formou uma equipe boa e entrosada. Teve um excelente desempenho no primeiro turno, onde conquistamos o título. No segundo turno, está num bom caminho para ir novamente às semis caso o campeonato retorne. Acho que o Caxias tem todas as condições de repetir 2000 e novamente ganhar um Campeonato Gaúcho.”

Fonte: O Bairrista