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Vigiar, punir e um sistema em colapso

Vigiar, punir e um sistema em colapso

Que a situação dos presídios do nosso estado é caótica, até o mais jovem quero-quero aprendendo a ser sentinela do pampa sabe desde que nasce. Superlotação, falta de estrutura, falta de segurança e o crime organizado comandado das cadeias, a receita é explosiva. Por conta disso, 30% dos presídios no estado estão interditados. O que pouco se fala é que, por aqui, na Serra Gaúcha, a situação é ainda pior.

Isso mesmo, por aqui, cinco dos 10 presídios da região estão interditados, e essa interdição quer dizer que, em tese, conforme a decisão da justiça, não se pode mais internar presidiários ali, e essa realidade amplia esse prende e solta que mantém o sistema sem funcionar.

E o que nós precisamos fundamentalmente é um sistema que funcione, e para isso é preciso que a polícia prenda e investigue, que o Ministério Público acuse e denuncie, que o Judiciário julgue e condene, e que o presídio tenha condições de fazer cumprir a pena e de ressocializar esse cara que cometeu um malfeito.

Só que isso está longe de ser uma realidade.

E aí ficamos com essa impressão de que a impunidade é a regra nessa nossa república de bananas. E isso é verdade exatamente por conta dessas questões.

E você até quer ser solidário e achar que a pessoa vale por si, e quer mesmo ficar preocupado com a sorte dessa meninada, mas alguém te diz que bandido bom é bandido morto, e, espera aí, que essa frase todo mundo entende.

A senhora que tomaram dela o celular com o revólver na cabeça entende; o jovem que tiraram dele o tênis com o revólver na cabeça entende; a vítima do crime, quem conhece a vítima do crime, alguém que conhece o parente distante da vítima do crime.

A tentação é evidente: acaba com essa conversa fiada que não vai recuperar essa gente mesmo, e esquece que a pena de morte, na prática, já existe nas ruas.

Mas o que resolve o problema é a certeza da pena e não é a intensidade da pena. E esse é o grande problema, porque as pessoas estão vendo cada vez mais claro que pros grandes não tem pena e para os pequenos têm, e ela é dura.

Pra mudar essa realidade, será preciso produzir de cima para baixo uma restauração da sociedade pelos seus valores e pela educação, e, claro, pela política, simplesmente porque é a única ferramenta pra resolver as equações comunitárias.

Porque nada disso será possível se o sistema não for todo repensado.

Hoje, o Brasil tem proporcionalmente a maior população carcerária do mundo porque a legislação é antiga e atrasada, porque a polícia é pressionada para produzir estatística, porque a Justiça prende e solta e porque não tem vaga nos presídios.

E enquanto isso, um terço dos presos são jovens presos como traficantes que na cadeia entram na região de influência do crime organizado. E quando você se dá conta vê que o camarada virou o mandante do crime de dentro da cadeia, e o ciclo se refez.

E enquanto só 8% dos homicídios são realmente punidos, não tem como imaginar que o sistema funciona. E a verdade é que, enquanto a polícia segue enxugando gelo e engrossando as estatísticas, as frases simplórias seguem o rumo das certezas, cada vez mais fáceis de serem entendidas.